Jornalistas propõem aulas de literacia dos media no ensino público

Apresentei esta proposta ao 4.º Congresso dos Jornalistas - aprovada por larga maioria juntamente com outra parecida apresentada pelo Luís Humberto e pelo professor Manuel Pinto - e cuja ideia essencial foi incluída na resolução final aprovada por unanimidade pelos jornalistas presentes: 


Apelo dos jornalistas portugueses à introdução de uma disciplina de literacia da comunicação de massas no ensino básico 
Os jornalistas portugueses, reunidos no 4.º Congresso dos Jornalistas, recomendam à Assembleia da República e ao Governo português a tomada de iniciativas que possibilitem a criação, no sistema de ensino público básico, de uma disciplina de literacia da comunicação de massas que possa dar aos jovens portugueses competências fulcrais para lidarem responsavelmente e conscientemente com os novos sistemas comunicacionais e aumentem as suas capacidades efetivas para o exercício de uma cidadania ativa e responsável. Entre outros objetivos, pretende-se: 

Jornalistas chumbam proposta sobre declaração de interesses na profissão

Eis a proposta que entreguei no Congresso dos Jornalistas e que foi rejeitada merecendo, apenas, 21 votos favoráveis entre os presentes:

Recomendação à Comissão da Carteira Profissional de Jornalista sobre uma declaração de interesses dos jornalistas 
O jornalismo em todo o mundo passa por uma crise de credibilidade que põe em causa o seu futuro. Independentemente de muitos factores externos aos próprios jornalistas estarem a criar essa situação, cabe individualmente a cada um dos jornalistas tudo fazer para tentar inverter, na sua limitada esfera de ação, a degradação da imagem pública da sua profissão e o consequente empobrecimento do seu estatuto. Uma das vias para o conseguir é adotar medidas de transparência profissional que levem os leitores, espectadores, ouvintes e interlocutores do jornalismo a acreditarem na independência e seriedade dos seus profissionais. 
O 4.º Congresso dos Jornalistas portugueses recomenda à Comissão da Carteira Profissional de Jornalista que crie no seu sítio da internet um formulário adequado para que todos os jornalistas portugueses possam tornar pública uma declaração de interesses voluntária, não obrigatória, atualizável em qualquer altura, que abranja as influências ou ligações profissionais, contratuais, patronais, políticas, familiares, económicas, desportivas, culturais ou outras que possam, de alguma forma, direta ou indiretamente, influenciar o exercício da sua profissão e que o jornalista considere, livremente, seguindo apenas o seu próprio e exclusivo critério pessoal, ser seu dever, para assegurar a transparência da sua atividade profissional, revelar. 
Lisboa, 15 de janeiro de 2017 
Pedro Tadeu 

A defesa possível no debate sobre a declaração de interesses

Por falta de tempo, deram-me apenas dois minutos para tentar defender a proposta sobre a existência de uma forma de declaração de interesses para os jornalistas. Eis o que li ao congresso dos jornalistas:

Começo por dizer o que não é esta proposta de declaração de interesses: não é uma declaração de rendimentos, não é uma exposição da vida privada, não é uma ecografia pública das nossas consciências, não é sequer obrigatória. O que que proponho é um meio de defesa dos jornalistas e um instrumento de transparência na relação com os seus leitores que defenda a sua credibilidade, por um lado, e a sua liberdade, por outro lado.
Esta declaração de interesses não é a solução para os problemas da profissão mas é um pequeno passo – apenas um pequeno passo – que pode ser aplicado de forma imediata e sem dificuldade, no longo e penoso caminho que teremos de percorrer para reconquistar a credibilidade do jornalista junto do público.

Voltar a acreditar no jornalismo

A comunicação que li no 4.º Congresso dos Jornalistas Portugueses

A mentira
O jornalismo tornou-se essencial nas nossas vidas porque conseguiu fazer com que os leitores acreditassem nele. Independentemente dos projetos editoriais, dos interesses económicos, políticos ou culturais que estivessem por detrás desses projetos editoriais, o jornalismo moderno prometeu sempre procurar a verdade, jurou tudo fazer para distinguir o boato da verdadeira notícia. 
Publicar a verdade é, porém, cada vez mais difícil. 
Todos os dias jornais, rádios e televisões mostram-se decididos em ganhar em velocidade a batalha nas redes sociais. A informação é cada vez menos procurada, avaliada, verificada ou explicada; é, cada vez mais, apenas replicada, disparada. Depois, apesar da fragilidade da sua sustentação, essas “notícias” são comentadas por um exército de opinadores (onde eu me tenho incluído), de escassa diversidade e muitas vezes ausente pluralidade ideológica e cultural, que acabam por caucionar e amplificar para a opinião pública uma provável falsa realidade.
Todos os dias os jornais, em todo o mundo, estão assim a violar o compromisso com a verdade, seja em notícias muito relevantes, seja em relatos pouco importantes, e estão a deixar de ser o local onde os leitores e telespectadores conseguem distinguir o boato, exponencialmente amplificado pelas redes sociais e muitas vezes reproduzido como verdade pela imprensa, daquilo que é a verdadeira e comprovada notícia. 
Este caminho levará à vitória do facebook e à irrelevância da profissão do jornalista.

Perigos para a liberdade de imprensa em Portugal

 

1 . Fui convidado a fazer esta intervenção na sequência, conforme me foi dito, de um texto de opinião que escrevi no Diário de Notícias sobre o atentado em França ao jornal Charlie Hebdo. Permitam-me recordar esse texto:

“Defendem o direito de publicar um cartoon de Maomé, nu, genitais à mostra, rabo espetado com uma estrela no cu mas convivem com a lei que promete três anos de cadeia a quem injurie o Presidente da República.

“Gritam pela liberdade de imprensa mas só reconhecem o direito de ser jornalista a quem o Estado e a elite da classe aceitem passar um cartão profissional.

As mulheres querem é levar tau tau?

A liberdade conduz à submissão? A pergunta assustou a minha cabeça quando televisões e jornais me assaltaram com um arrastão de reportagens sobre o lançamento do filme As Cinquenta Sombras de Grey.

Em Londres umas centenas de miúdas com propensão para a obesidade e dentes desalinhados guincharam, na noite fria da estreia, frente ao cinema Odeon Leicester Square, para saudar a passagem dos atores, lindos, Dakota Johsson e Jamie Dornan mais a escritora, feia, do livro replicado em argumento, E.L. James.

Quem foi o burro que deu o canudo aos professores burros?

Se eu acreditar no ministro da Educação (acreditar em Nuno Crato é difícil...) parece que na prova de avaliação de 2.490 professores (0,14% do universo total dos professores do ensino público) houve quem desse "20 erros numa frase". Vamos admitir a veracidade da informação e a conclusão implícita: há professores burros a dar aulas. Nem vou discutir isso, vou apenas perguntar: "se é assim, quem foi o burro que lhes deu o canudo para serem professores?"

Os examinados tinham todos menos de cinco anos de profissão pelo que a certificação do curso que lhes validou a habilitação para a docência só pode ter acontecido com Maria de Lurdes Rodrigues ou com o próprio Nuno Crato.

Na Grécia deram um tiro à esquerda moderada

A semântica dos mais notáveis colunistas, o texto das agências noticiosas, as análises do Financial Times, do Le Monde, do Diário de Notícias, do El País, da Reuters ou da France-Presse, de repente, mudaram: o Syriza deixou de ser "radical" pois adotou um discurso "moderado" na crítica à "ortodoxia" da engenheira Merkel, senhora que, comentam unânimes, insiste numa austeridade "irrazoável"...

Então os "ortodoxos" não costumavam ser os comunistas empedernidos e os "moderados" os sagrados líderes da zona euro? Os "radicais" e "irrazoáveis" trocaram de lado com as eleições da Grécia? Está tudo louco? Que se passa?

Combater pela liberdade a dar tiros à liberdade

Infetamos de paixão, de ideologia e de religião o debate sobre a resposta europeia ao terrorismo, a caminho da legitimação de uma deriva securitária que fará de todos nós uns prisioneiros do aparelho policial e militar que, cinicamente, se montará para defender a liberdade europeia. Estamos, portanto, lixados.

O combate ao terrorismo islâmico na Europa, tal como a luta contra qualquer forma de crime organizado, passa por coisas óbvias, corretas: detetar e eliminar a circulação ilegal de armas na Europa; partilhar informações entre polícias; recusar pagar raptos a terroristas; estancar fontes de financiamento destas organizações; restabelecer medidas básicas de segurança civil aplicadas durante décadas de atentados frequentes na Grã-Bretanha, Espanha, Alemanha e Itália quando o IRA, a ETA, o Baader-Meinhof, inúmeros grupos radicais (alguns a soldo de serviços secretos ocidentais) e a máfia abatiam pessoas ou faziam explodir bombas nas ruas.

Eu também sou Charlie mas não vou com a manada

Defendem o direito de publicar um cartoon de Maomé, nu, genitais à mostra, rabo espetado com uma estrela no cu mas convivem com a lei que promete três anos de cadeia a quem injurie o Presidente da República.

Gritam pela liberdade de imprensa mas só reconhecem o direito de ser jornalista a quem o Estado e a elite da classe aceitem passar um cartão profissional.

São cúmplices por inação da opacidade informativa do governo, da Comissão Europeia, das autarquias, da justiça, dos bancos, das grandes empresas, dos clubes, dos falsos ricos, de uma hipócrita e ideológica noção de reserva da vida privada utilizada como álibi para não dar notícias.

O processo Sócrates é igual ao dos submarinos?

O processo dos submarinos que atingiu a imagem de Paulo Portas tem algum paralelo com o processo que liquidou a reputação de Sócrates? Sim e não. Sim porque as violações de segredo de justiça provenientes da investigação e as interpretações sobre essas informações feitas por atores do palco mediático envenenaram o julgamento da opinião pública quer sobre Portas quer sobre Sócrates, embora com gradações e intensidades diferentes.
Não, os processos não são paralelos porque Portas nunca foi arguido, sai totalmente ilibado sem contestação relevante enquanto Sócrates, preso preventivo, terá de ser mesmo condenado para salvar a face da Justiça: se, por burrice inultrapassável do Ministério Público, acabar por ser libado, verá metade do país acreditar que os políticos manipularam os tribunais e “cozinharam” uma fraca inocência.