Se eu acreditar no ministro da Educação (acreditar em Nuno Crato é difícil...) parece que na prova de avaliação de 2.490 professores (0,14% do universo total dos professores do ensino público) houve quem desse "20 erros numa frase". Vamos admitir a veracidade da informação e a conclusão implícita: há professores burros a dar aulas. Nem vou discutir isso, vou apenas perguntar: "se é assim, quem foi o burro que lhes deu o canudo para serem professores?"
Os examinados tinham todos menos de cinco anos de profissão pelo que a certificação do curso que lhes validou a habilitação para a docência só pode ter acontecido com Maria de Lurdes Rodrigues ou com o próprio Nuno Crato.
É estranhíssimo que o ar de tragédia nacional com que o ministro comentou os resultados de uma prova cujo enunciado, como já foi demonstrado por inúmeros analistas, era um verdadeiro desastre, não tenha sido acompanhado pelo anúncio de uma reforma, um inquérito, uma simples análise ao sistema de formação de professores, a questão que é aqui essencial.
Porque interessa ao ministro fazer provas que "chumbam" professores em vez de, nas Escolas Superiores de Educação, fazer travar o escoamento para a docência dos incapazes?
Em 2008, quando começou a crise financeira, Portugal tinha, do ensino pré-escolar até ao superior, um total de 211.299 professores. Em 2013, segundo os últimos dados do Pordata, contava 183.839 professores.
Em 2008 havia 1.762.540 de alunos no ensino público e 422.331 no privado. Em 2013 esses valores baixaram para 1.731.329 no público e 408.648 no privado.
A queda no número de professores no ensino público foi, nesse período, de 13,9%. O ensino privado passou a ter menos 7,6% de docentes.
Deveu-se isto à falta de alunos? Não: a queda do número de alunos no ensino público foi apenas de 1,8% e no privado foi 3,2%.
Se quisermos afinar os números para o momento da entrada da troika em Portugal, em 2011, teremos uma queda de 13,4% na quantidade de professores do ensino público e de 12,39% no ensino privado.
Nos estudantes esses valores desceram apenas 6,73% para o ensino público mas, para o ensino privado, atingiram 15,8%. Mesmo assim, as escolas privadas despediram menos professores, em percentagem, do que o Estado.
Conclusão: melhorar a formação dos professores de forma a impedir que os "burros" possam ensinar, não interessa. Interessa é deixá-los entrar no sistema para acabar de vez com o prestígio da profissão docente e ganhar os líderes de opinião para o processo, em curso, de destruição do ensino público... Há outra explicação possível para tanta asneira?
in Diário de Notícias, 3 de fevereiro de 2015
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