António Guterres comparado com Durão Barroso, deixou saudades. Durão comparado com Santana Lopes, deixou saudades. Santana comparado com José Sócrates, deixou saudades (bom, talvez aqui haja uma excepção que confirme a regra...). Sócrates, comparado com Passos Coelho, deixou saudades. Antóno José Seguro, se tomar o poder, vai deixar-nos, quase de certeza, com saudades do Passos Coelho que hoje detestamos.
As teorias sobre as razões da continuada degradação da classe política podem somar-se: o carreirismo partidário clientelar; a fraca aprendizagem académica e profissional fora da vida política; a profissão política mal paga e exposta; um rotativismo partidário circular que, por isso, perde competência, imaginação e criatividade; o sistema eleitoral. Há quem alvitre isso, parte disso ou a soma total disso. Não chega.
Nenhuma daquelas hipóteses nos dá uma verdadeira resposta: esta degradação no tempo é contínua e linear e não corresponde ao valor individual, pessoal e profissional de cada uma das personagens envolvidas, cujo gráfico tem variações, para cima e para baixo, bem mais dinâmicas do que esta longa e constante linha descendente.
O valor das pessoas que entra na política está, portanto, a ser esmagado por outra coisa e a demonstração disso está em termos chegado ao ponto de ser impossível constituir um governo com homens e mulheres que tenham um passado insuspeito de captura pelo bloco central de interesses, que construiu uma teia de relações interdependentes entre o poder político e o poder financeiro, que produz a falsa harmonia do regime.
A resposta foi candidamente dada pelo Presidente da República. Para resolver a crise aberta pelas demissões de Vítor Gaspar e Paulo Portas, Cavaco Silva aceitou abrir a porta do poder, recorde-se, a quem formalmente cantasse obediência à União Europeia, ao BCE e ao FMI, o que incluía não haver eleições antes de 2014, a aceitação de cortes de despesas violentas no Estado e reduções rápidas e draconianas de défice e de dívida pública.
Isto não é novo. Desde 1986 a política portuguesa é, apenas e só, a entoação do canône europeu. Com a chegada do euro, entretanto, o poder central europeu cresceu demasiado e transformou o palácio de São Bento numa espécie de delegação de Bruxelas e Berlim.
Este é o verdadeiro motivo da degradação contínua do pessoal político: não interessa quem está lá, não interessa o nome do maestro. A pauta é única e até lhe chamam Hino à Alegria... Em cada mudança de Governo o novo boneco que lá põem a fingir que dirige a orquestra, que aceita limitar-se a macacaear o boneco anterior, faz sempre, é fatal, pior figura. Eis o problema.
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