Há a esquerda responsável, há a esquerda radical e há a esquerda revolucionária. Em teoria têm tudo para se unir: defendem as três a igualdade; o laicismo; a prevalência dos interesses dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos sobre a velocidade do crescimento económico ou do direito à propriedade; lutam pela preservação do meio ambiente; pela defesa dos direitos das minorias; são antifascistas e recusam uma sociedade que só dá direitos aos mais aptos.
E, no entanto, a esquerda não se une. Porquê? Eu explico: há a esquerda responsável, há a esquerda radical e há a esquerda revolucionária.
A esquerda responsável negoceia, negoceia, negoceia. Vai cedendo, cedendo, cedendo até se esquecer de si própria. Mário Soares meteu o socialismo na gaveta para garantir o poder e um empréstimo do FMI para, no fim, estender o tapete por onde desfilou Cavaco Silva. António Guterres achou que só com crescimento económico ia lá e, quando constatou o desastre dessa visão, fugiu. José Sócrates pensou que comprava os favores do mundo financeiro com investimentos públicos e acabou a assinar a entrada da troika liberal e anti-Estado. António José Seguro, ainda na oposição, já defende uma justiça especial para o capitalismo internacional operar no nosso país.
A esquerda responsável, cega pela tática, com medo das ruturas, está destinada a ser cúmplice daquilo que diz querer combater. É fatal.
A esquerda radical é uma zaragata. Ali cada cabeça não dá apenas uma sentença, dá um dogma. Se as outras cabeças não aceitam o dogma, o cabeçudo bate com a porta, vai-se embora e funda outro partido. Esta soma de individualidades não conhece a palavra disciplina.
Francisco Louçã, Miguel Portas e Luís Fazenda, ao tecerem o que veio a ser o Bloco de Esquerda, pareciam ter resolvido o problema, unindo grupos que nas décadas anteriores se notabilizaram pela irrelevância ou pelo quase banditismo. Foi uma década boa. Beneficiaram do fim da União Soviética, do enfraquecimento do PCP e conseguiram atrair o PS para a produção de legislação progressista. Agora, face a uma oportunidade política de ouro, multiplicam-se dissidências e birras incompreensíveis.
A esquerda radical suicida-se sempre. É, apenas, uma angústia existencial.
Sobra a esquerda revolucionária. Qual? A representada pelo PCP, o meu partido, que, aos meus olhos (parciais, sim), representa a única esquerda capaz, ao mesmo tempo, de ser radical e de ser responsável e isso, de facto, é absolutamente revolucionário... É outro campeonato, que as outras esquerdas, simplesmente, não percebem.
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