Correção - Este texto tem dois erros factuais que, no entanto, não alteram a ideia central apresentada: o convite da Juventus a Eusébio foi em 1964 e não em 1966 (nesta altura foi o Inter de Milão que, depois, desistiu da proposta por ter saído, entretanto, uma lei em Itália a proibir a contratação de estrangeiros) e a seleção onde Eusébio alinhou que só tinha dois jogadores nascidos em Portugal foi a que disputou o apuramento para um Mundial e jogou com a Inglaterra a 25 de Outubo de 1961 e não a que disputou o Mundial de Inglaterra em 1966.O meu pedido de desculpas aos leitores - é o que dá confiar na memória. (Pedro Tadeu, 07/01/2014, 14 horas)
Quando, em 1966, se pôs a hipótese de Eusébio ir jogar para a Juventus por 16 mil contos, uma quantia, para a época, enorme, o ditador Oliveira Salazar não permitiu. Classificou, cinicamente, o moçambicano de "património nacional" e não o deixou sair de Portugal. O Benfica aumentou-o para 4000 contos.
Quando Cristiano Ronaldo soube que o Sporting recebeu do Manchester United uma proposta de 17 milhões de euros para a sua contratação, nenhum governante se meteu no assunto e nada conseguiu impedir a transferência. Viria, depois, no Real Madrid, a ser o jogador de futebol mais bem pago de sempre.
Em Moçambique o Desportivo (ligado ao Benfica) recusou contratar o jovem Eusébio com 16 anos, que viria a jogar no Sporting de Lourenço Marques (ligado ao Sporting Clube de Portugal), clube que o filho de dona Elisa não gostava por estar relacionado com a polícia e ter a tradição de só contratar jogadores brancos. O Benfica retificou o erro do Desportivo um ano depois.
Aos 10 anos Cristiano Ronaldo já estava no Nacional da Madeira, um clube de topo do futebol português, e aos 11 morava em Lisboa para frequentar a formação do Sporting onde, aos 16 anos, se estreou na primeira Liga.
Qualquer português que no final dos anos 60 saísse de Portugal o sabe: lá fora, do nosso país, quase só conheciam Eusébio. Os portugueses são hoje em dia conhecidos por causa do madeirense Cristiano Ronaldo, o mais famoso de todos nós, mas ele não está só: para ficar apenas no futebol podemos listar facilmente outros nomes internacionalmente relevantes já que, de Figo a Mourinho, a lista cresceu.
A seleção nacional que Eusébio levou ao terceiro lugar do Mundial só tinha dois jogadores nascidos em Portugal, todos os outros jogavam cá mas eram das colónias africanas e um deles nasceu brasileiro. As seleções de Cristiano Ronaldo tiveram e têm cidadãos naturalizados, outros jogadores nascidos cá mas de origem africana e até nascidos no estrangeiro filhos de emigrantes. A maioria compete fora de Portugal.
Eusébio aceitava jogar com lesões graves. Cristiano Ronaldo parece ter a sensatez de recusar essa indignidade violenta. Eusébio recebeu condecorações do Estado. Ronaldo vai, também, colecionando homenagens dos políticos. Eusébio ganhou todos os prémios individuais que o futebol no seu tempo dava. Ronaldo também. Eusébio tinha Pelé. Ronaldo tem Messi.
Sim, é interessante comparar Eusébio com Cristiano Ronaldo. Para saber qual deles é o melhor? Não. Isso não me interessa. Para percebermos como tanta coisa mudou no futebol, no País, no mundo e como muitas outras, no fundo, mudaram tão pouco. E para concluir que, apesar de tudo, o tempo que Cristiano Ronaldo vive é bem melhor, muito mais doce e suave, do que o tempo em que Eusébio triunfou.
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