A acusação, agora, é esta: a esquerda é desumana porque critica as ideias das pessoas de direita que morreram. Por outro lado, não está disponível para debater política, pelo que não contribui para o progresso do País.
Houve uma exceção entre os que se dedicaram à questão da suposta honra ofendida de António Borges: Vasco Pulido Valente repetiu pela enésima vez que todos, à esquerda e à direita, são ignorantes. Sendo essa uma constatável verdade, não nos desempata, porém, o antagonismo.
Vamos à primeira questão: querem que cite os textos de pessoas de direita que, reconhecendo as capacidades intelectuais de Álvaro Cunhal, o estraçalharam até ao limite de lhe atribuírem uma objetiva cumplicidade com os crimes hediondos do estalinismo? E isto na semana em que ele morreu?
Querem que recorde como Vasco Gonçalves foi, simplesmente, enxovalhado mais aos seus curtos 15 meses de governo, na data da sua morte, 30 anos depois (sim, 30 anos depois!!), apontados em turbilhão jornalístico como principais responsáveis pelo atraso do País? Mais do que o Estado Novo?!
E quando morreu José Afonso? E quando morreu José Saramago? E quando morreu Rosa Coutinho? Não foram todos, estes e outros, criticados do ponto de vista ideológico por pessoas de direita? Alguém se queixou de essas opiniões, a um tempo legítimas e contestáveis, como todas as opiniões, ofenderem a ética e a moral? Foram aqueles exemplos momentos de "suspensão de hostilidades" (para usar a alegação mais reproduzida) da direita em reação à morte de pessoas da esquerda? Não.
Quanto à acusação de a esquerda não estar disposta a participar num sereno debate de ideias políticas, despido de preconceitos ideológicos, venho aqui propor, para começar, seis pontos que gostaria de analisar, diferentes daqueles que a direita, todos os dias, me tenta impor para discutir:
1 - Há nacionalizações que fazem sentido e são urgentes?
2 - O aumento generalizado de salários e de poder de compra dos trabalhadores é necessário?
3 - Deve haver um limite para a riqueza pessoal?
4 - A saída de Portugal do euro é inevitável?
5 - O Estado deve emagrecer?
6 - Crimes do capitalismo contra a humanidade - da escravatura ao trabalho infantil; da colonização em África às invasões do Iraque.
Se passarem a estar dispostos a discutir isto sem achar a coisa reacionária, ultrapassada, inútil, injusta, preconceituosa e estúpida, como sempre aconteceu, pode ser que haja conversa. Mas duvido.
PS: Algumas pessoas entenderam, na semana passada, que a frase "aguardo publicação" que escrevi dizia que o "Diário Económico" recusara um direito de resposta que enviei. Tresleram. O "DE" publicou-o e dentro do prazo legal.
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