1 - Pedro Tadeu, na sua injustificável coluna no DN, publicou há tempos um texto defendendo a divulgação pública das declarações fiscais de todos os cidadãos, indiscriminadamente - argumentando, entre outras coisas, que assim poderia confirmar os casos de "directores de jornais com salários de dez ou quinze mil euros e cronistas ou comentadores de TV a receber neste universo de remunerações".
2 - Comentando esta posição, eu escrevi na revista GQ que ele era, obviamente, movido pela mais antiga doença portuguesa, que é a inveja. E, recordando a sua passagem como director pelo jornal 24 Horas, por ele transformado num pasquim especializado na devassa da vida alheia (sufocando qualquer resistência deontológica de alguns bons profissionais que lá trabalham), referi que este era o mesmo Tadeu que fizera
publicar uma primeira página inteira daquele jornal com o título "Miguel Sousa Tavares operado a um tumor". E que, depois, quisera fazer dessa primeira página uma campanha de publicidade, com televisão e outdoors - o que só não foi avante porque eu me opus a tempo. E, perguntava eu no meu comentário, se, para ele, nem a saúde nem a situação financeira das pessoas eram território reservado, que mais quereria ele espreitar da vida alheia?
3 - O Sr. Tadeu leu e não gostou. E entendeu replicar na edição de 13.04.10 do DN, num texto que o classifica como pessoa e como jornalista: de formação estalinista e de vocação policial/terrorista - duas coisas que, como bem sabemos, andam frequentemente a par. A sua resposta é um bacanal de insultos pessoais, que me dispenso de comentar, dada a nula consideração moral que tenho pelo personagem. Mas é também o enunciado de algumas falsidades, que, essas sim, quero desmentir.
Diz que eu revelei no Expresso o teor de "uma conversa privada com Durão Barroso". É inteiramente falso e basta ler o que escrevi para o constatar. Limitei-me a referir a súmula das posições publicamente enunciadas perante uma assistência de oficiais da Armada acerca da compra dos submarinos, por parte do Professor Adriano Moreira, do Dr. Durão Barroso e de mim próprio.
Diz também que houve apenas uma "hipotética campanha" publicitária, que utilizaria a minha cara, o meu nome e uma notícia do meu estado de saúde para promover o 24 Horas. É redondamente falso, como ele bem sabe: a campanha não foi hipotética, mas sim bem real. Já tinha, aliás, começado em dois jornais e só foi travada, no restante e no limite, quando eu ameacei lançar mão de todos os recursos judiciais ao meu alcance, em defesa da minha imagem (que nunca emprestei a qualquer campanha de publicidade, por maiores que tenham sido as ofertas recebidas) e em defesa da minha privacidade - dois valores que a Constituição garante, mas que o Sr. Tadeu acha que pode ignorar.
Também me acusa de "cair na tentação" que denuncio, ao criticar (como o país inteiro!) os 3,1 milhões de ordenado e bónus recebidos em 2009 pelo presidente da EDP. É preciso explicar duas coisas que Tadeu não entende: uma, que criticar o valor de um vencimento, que é público e publicado, não é o mesmo que exigir o acesso à declaração de rendimentos dessa pessoa; outra, que mesmo que tal fosse idêntico, há uma diferença fundamental entre a publicitação das declarações fiscais de quem exerce cargos públicos ou de nomeação política, nomeadamente em empresas onde o Estado é o principal accionista e que exploram bens públicos de primeira necessidade, e quem nada recebe, nada representa e nada administra do Estado. Mesmo um profissional do voyeurismo devia perceber isto. A situação fiscal de cada um (o que implica o conhecimento da sua situação patrimonial e financeira) é da conta das Finanças - que analisam, cobram, multam e perseguem, se virem motivo para isso. Não é da conta dos Tadeus deste mundo, nem visa satisfazer a sua inveja, o seu desejo de meter o nariz na vida alheia ou o seu gosto pela calúnia fácil. Ao contrário do que ele torpemente afirma, eu não tenho "medo" algum que quem de direito passe à lupa, as vezes que quiser, a minha situação fiscal - como já o fizeram, normalmente. Mas não tenho de escancarar a minha vida à devassa viciosa dos Tadeus.
Espero que o Sr. Tadeu passe muito bem de saúde e que a sua situação financeira seja tão boa quanto ele se gaba no seu texto - mas não tenho curiosidade alguma em o saber. Fui educado de outra maneira.
Por Miguel Sousa Tavares, in "Diário de Notícias", 15 de Abril de 2010
Sem comentários:
Enviar um comentário