Já toda a gente deu nota de que o congresso do PSD foi ofuscado pela chamada "lei da rolha" proposta por Santana e aprovada pelos militantes sociais-democratas num, oiço dizer agora, "infeliz momento colectivo de distracção".
Houve um tempo em que muito se teorizava sobre a capacidade de Santana Lopes hipnotizar plateias, mas entraríamos certamente no reino da loucura se acreditássemos que 352 pessoas votaram, em estado cataléptico, um taxativo "sim" à expulsão de militantes que criticassem a direcção do partido em período eleitoral.
Como essa alucinação colectiva, neste contexto, será impossível, só poderemos tirar uma conclusão: a proposta do antigo primeiro-ministro é efectivamente apoiada pela maioria dos militantes sociais-democratas.
O problema, portanto, dos candidatos a liderar o partido "laranja" não é o mero desacordo, que manifestam, com a ideia de Santana. Desconfio aliás que, passada a espuma destes dias, após o ciclo de eleições internas, a medida ficará, inerte, nos estatutos do PSD, sem alteração.
O problema está em que a "lei da rolha" surge depois de o partido ter passado meses e meses a bramar contra a "asfixia democrática" e a "tentativa de controlo da comunicação social" por parte de José Sócrates. A contradição, para um futuro candidato a primeiro- -ministro, é óbvia.
Acontece que a proposta de Santana Lopes - por uma vez, caramba! - é razoável, é justa. E foi por isso que os militantes a aprovaram.
Alguém aceita que um administrador de uma empresa arruíne a reputação financeira da sua firma quando se lançam acções em bolsa? Alguém aceita que um dirigente critique o treinador do seu clube de futebol antes de um jogo que decide o título? Então porque devemos aceitar que se diga mal do nosso partido quando ele luta para ganhar eleições?
Todos percebem isso: uma coisa é ter direito à liberdade de expressão, outra é ter direito a trair. O que os militantes do PSD disseram é que não gostam de ter traidores entre si. Eis algo que me parece muito razoável. E eis uma razão, simples, que explica porque Santana, apesar de tantas vezes ter sido dado como politicamente morto, acaba sempre por renascer das cinzas.
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