Como Santana Lopes sobrevive no PSD

Para a semana, o PSD terá um líder e talvez ele enterre de vez a vida política relevante de Santana Lopes… Pronto, não vou exagerar: Para a semana o PSD terá um líder e talvez ele não tenha na sua vida política um Santana Lopes relevante.

Já toda a gente deu nota de que o congresso do PSD foi ofuscado pela chamada "lei da rolha" proposta por Santana e aprovada pelos militantes sociais-democratas num, oiço dizer agora, "infeliz momento colectivo de distracção".

Houve um tempo em que muito se teorizava sobre a capacidade de Santana Lopes hipnotizar plateias, mas entraríamos certamente no reino da loucura se acreditássemos que 352 pessoas votaram, em estado cataléptico, um taxativo "sim" à expulsão de militantes que criticassem a direcção do partido em período eleitoral.

Como essa alucinação colectiva, neste contexto, será impossível, só poderemos tirar uma conclusão: a proposta do antigo primeiro-ministro é efectivamente apoiada pela maioria dos militantes sociais-democratas.

O problema, portanto, dos candidatos a liderar o partido "laranja" não é o mero desacordo, que manifestam, com a ideia de Santana. Desconfio aliás que, passada a espuma destes dias, após o ciclo de eleições internas, a medida ficará, inerte, nos estatutos do PSD, sem alteração.

O problema está em que a "lei da rolha" surge depois de o partido ter passado meses e meses a bramar contra a "asfixia democrática" e a "tentativa de controlo da comunicação social" por parte de José Sócrates. A contradição, para um futuro candidato a primeiro- -ministro, é óbvia.

Acontece que a proposta de Santana Lopes - por uma vez, caramba! - é razoável, é justa. E foi por isso que os militantes a aprovaram.

Alguém aceita que um administrador de uma empresa arruíne a reputação financeira da sua firma quando se lançam acções em bolsa? Alguém aceita que um dirigente critique o treinador do seu clube de futebol antes de um jogo que decide o título? Então porque devemos aceitar que se diga mal do nosso partido quando ele luta para ganhar eleições?

Todos percebem isso: uma coisa é ter direito à liberdade de expressão, outra é ter direito a trair. O que os militantes do PSD disseram é que não gostam de ter traidores entre si. Eis algo que me parece muito razoável. E eis uma razão, simples, que explica porque Santana, apesar de tantas vezes ter sido dado como politicamente morto, acaba sempre por renascer das cinzas.

in "Diário de Notícias", 23 de Março de 2010

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