Acho oportuno, dado que o meu nome foi trazido à liça, recordar o que a 11 de Setembro de 2004 escrevi no 24horas, na sequência da demissão do seu administrador máximo: "Granadeiro é um homem da comunicação social. Entende a gestão deste tipo de empresas com base em duas ideias nucleares: liberdade e responsabilidade. Aqui tivemos, no 24horas, toda a liberdade. Aqui se exigiu a máxima responsabilidade. Parece simples mas, posso garantir, não é fácil. Nem muito vulgar. É encontrar alguém com visão de Estado sobre o papel da imprensa em democracia, disposto a pagar todos os preços para garantir a independência dos jornalistas mas sendo igualmente implacável perante obscuros interesses corporativos ou laxismos que, por vezes, minam a profissão. Para conjugar isto, nos dias de hoje, é preciso quase ser-se um herói."
Quero acrescentar, para que não haja qualquer equívoco, que a administração que se seguiu, liderada pelo jornalista Luís Delgado, nomeada pela Portugal Telecom no mesmo contexto político que vitimou Henrique Granadeiro, não só não me demitiu como foi outro caso exemplar: nunca tive da parte de Delgado uma reunião, uma crítica, uma análise, um telefonema, uma conversa de circunstância, uma mera interjeição de reprovação sobre quaisquer notícias publicadas pelos jornalistas do 24horas.
Essas duas administrações exigiram-me a prática do jornalismo e a recusa da traficância informativa. Se com Granadeiro me tinha saído a taluda da liberdade de imprensa, com Delgado dupliquei o prémio.
Para resistir aos ataques do poder político a imprensa precisa de várias coisas, desde estabilidade financeira a verdadeira diversificação de proprietários. Mas concluo também, por experiência própria, vivida, comprovada, que a imprensa necessita de ter à sua frente gente digna, firme e vertical. É preciso "quase ser-se um herói"… O problema é que hoje quase ninguém está para heroísmos.
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