Pedro Passos Coelho,
o jovial e bom rapaz

Pedro Passos Coelho já não é um miúdo, mas mantém, apesar dos 45 anos, um jovial aspecto de bom rapaz. Como ser bom rapaz é maneira garantida de ser, em política, perdedor, nunca encarei a hipótese de este Pedro vir um dia a governar Portugal. Por isso, nunca liguei muito ao que dizia o homem que não se importa de ser apresentado na Wikipédia como "um dos braços direitos do engenheiro Ângelo Correia".

Mas isto de ver caras corresponde a não ver corações e, afinal, o eterno jovem arrisca-se a ser líder do PSD e, a partir daí, a correr para derrubar Sócrates e o PS. Há dias lançou um livro, intitulado "Mudar", onde explana o seu pensamento político.

Resolvi tentar saber o que vai por ali. Mas como também me custa dar 15 euros por um texto certamente maçador, resolvi ir ao site passoscoelho-mudar.com e ver, gratuitamente, as 18 páginas que lá estão.

A primeira frase que pude ler foi esta: "Nós, portugueses, como acontece certamente com todos os outros povos, nunca estaremos conjuntamente de acordo quanto ao conteúdo das políticas que devemos prosseguir." Esta evidência está ao nível do "se não estivesse morto, estaria vivo" que celebrizou o marechal La Palice. Belo!

Não me deixei ir abaixo e prossegui: Fiquei então a saber que este Pedro acha que o Estado deve preocupar-se com apenas quatro questões: segurança, justiça, defesa e diplomacia.

Fiquei a saber que este jovial político defende "a passagem de um Estado prestador de serviços para um Estado regulador", assim uma espécie de Alta Autoridade de coisas genéricas.

Fiquei a saber que, para este bom rapaz, a educação e a saúde devem ser asseguradas pelo sector privado ou pagos ("co-financiados", diz ele) pelos utilizadores. Fiquei a suspeitar, nas entrelinhas, que ele está quase convencido a cobrar propinas no ensino obrigatório, a exigir lucros no tratamento do cancro ou a aliviar os ricos de taxas para a Segurança Social. Mas, querido povo, descansai que ficará o Estado "a regular" tudo…

E, finalmente, fiquei a saber que a profundidade deste cérebro acha que o Estado "precisa de ter, para além do controlo democrático do Parlamento, o que podemos chamar de conselhos de opinião ou conselhos consultivos". Para quê? Para, pagos pelo Estado, "regular" o próprio Estado. Que belo instrumento de controlo político e de distribuição de "tachos"!

Não preciso de ficar a saber mais. Com Passos Coelho poderemos ganhar um bom rapaz no Governo, mas os maus rapazes do costume, na noite em que ele for eleito, abrirão garrafas de champanhe.

in Diário de Notícias, 26 de Janeiro de 2010

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