No final a receita será a do costume: exigir mais sacrifícios para quem trabalha, deixar que as empresas despeçam com facilidade, não permitir ou limitar aumentos salariais e limpar a consciência com uns apoios piedosos aos profissionais da caça ao subsídio.
Tudo o resto será para o Estado sustentar a sua própria gordura ou para distribuir favores a quem gere em nome dos ricos. É assim há mais de 30 anos.
Se há rosto para a crise é o rosto da banca. Em Portugal e lá fora. Nos últimos dois anos, José Sócrates disponibilizou não sei quantos milhares de milhões de euros para salvar bancos portugueses. Só que eles não estavam propriamente em crise, exceptuando o BPN, por motivos criminais, e o BPP, por bebedeira especulativa.
Os cinco maiores bancos portugueses somaram 2.100 milhões de euros de lucro no ano de 2005, 2.660 milhões em 2006 e 2.900 milhões em 2007. No auge da crise financeira mundial, em 2008, estes mesmos bancos conseguiram lucrar 1.730 milhões. E só nos primeiros noves meses de 2009, BES, BCP, BPI, CGD e Santander Totta lucraram 1.448 milhões. Ao longo destes cinco anos estes cinco bancos ganharam mais de seis milhões de euros por dia.
Em contrapartida, em 2005, a banca em Portugal pagou impostos sobre apenas 11,7% dos seus rendimentos. Em 2006 este valor subiu para 19,4%. Em 2007 desceu para 14,5%. Em 2008 voltou a descer para 12,8%. E, segundo a Associação Portuguesa de Bancos, no primeiro semestre de 2009 a banca pagou impostos sobre, apenas, 9,9% das suas receitas! Como isto é possível, não sei.
Sei é que Barack Obama, que não é um perigoso comunista ou um inimigo da economia de mercado, anunciou quinta-feira um novo imposto à banca. Acabada a crise e as ajudas financeiras, o cofre do Estado norte-americano espera cobrar de volta, em 10 anos, 90 mil milhões de dólares.
Por cá ninguém fala disto. Para a esquerda José Sócrates oferece bandeiras como o "casamento gay", de resto uma lei um bocado maricas por proibir a adopção por casais homossexuais. Para a direita reservou a arma que realmente interessa: um orçamento que não incomoda a banca.
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