O jogo que eu já não quero jogar

Estava a discutir o título para a capa desta revista quando me saí com uma frase pateta: “Bem, no trabalho eu também passo muitas horas por dia com raparigas e não me ponho por aí a apaixonar-me”. Uma das jornalistas presentes nessa reunião, sem me deixar tempo para respirar, atirou: “O Tadeu desculpe, mas o Tadeu é casado!...”. Portanto, a mim, no consenso generalizado das mulheres que me rodeiam, desde há 18 anos, desde o dia em que dei o nó, já não se aplica o estatuto de pessoa que pode apaixonar-se. Está proibido, acabou, finito... Eis qualquer coisa que me chocou.

Há 18 anos jurei fidelidade à minha mulher e o problema que se coloca é este: estando fora de causa um envolvimento sexual com alguém – por favor, não vamos por aí! –, será motivo para alegar infidelidade uma paixoneta platónica, um simples encantamento até legitimado pelo facto de à minha volta trabalharem várias mulheres inteligentes, bonitas e excelentes pessoas? Não poderia, no recato da minha consciência, no segredo dos meus pensamentos secretos, reservar algum tipo de sentimento romântico que, mesmo sem se manifestar exteriormente, me alimentasse os sonhos, o ego, a autoestima?

A coisa está moralmente resolvida por uma regra simples que tento seguir: “não faças aos outros o que não queres que façam a ti”. A minha opção, portanto, é nunca me apaixonar. Portanto, meninas, têm razão, para mim a excitação do jogo da conquista terminou, essa competição já não me serve, estou fora. Podem ver-me como um eunuco, que as alegrias do matrimónio são mais que muitas.

Então qual é o meu problema? É que aquela frase daquela jornalista, naquela reunião, no fundo, no fundo, lembrou-me que tenho saudades de jogar uma, só uma partidinha mais...

in 24horas, 13 de Maio de 2006

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