As minhas férias preferidas

Estou prontinho para partir de férias e o meu destino é este: a minha casa. Não, não se trata de alguma mansão no Algarve que possua, como os ricos, é mesmo a casa onde vivo: vou enfiar-me lá e, pelo menos durante uma semana, ninguém me tira dali.

Eu não sei como a minha família me aguenta, mas a verdade, a verdadinha, é esta: detesto ir à praia, detesto viajar, detesto calor, detesto agitação, detesto discotecas e, para ser franco, não gosto muito de férias, pois, dado o que atrás ficou explanado, não sei o que fazer nesse período.

Para mim as férias só têm uma vantagem: licença para dormir. Na primeira semana de paragem de trabalho a actividade mais assinalável a que me dedico é viajar da cama para o sofá frente ao televisor e, em ambos os locais, dedicar-me ao acto criativo de ressonar melodias interessantes. No intervalo viajo lentamente até à mesa de jantar para trincar alguma coisa, mas, depressa, depressinha, volto a deitar- -me perante as imagens das velharias transmitidas pela SIC Comédia – uma droga soporífera ultra-eficaz.

Os outros dias das férias são mais difíceis para mim, mas aceito fazer algumas concessões de sociabilidade. Passo-os, no entanto, da forma mais introspectiva possível: não faço projectos nem planos, não tomo iniciativas, não dou sugestões. Olho para o infinito como se estivesse a pensar em algo e, simplesmente, vou atrás, arrastando-me, da minha mulher e da minha filha para onde elas quiserem. De vez em quando refilo um bocadinho a ver se consigo voltar para casa.

Conclusão: tendo eu uma vida tão desinteressante só me restava mesmo ser jornalista e dedicar-me a bisbilhotar a vida dos outros. Boas férias, leitor.

in 24horas, 29 de Julho de 2006

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