Lá que há muita coisa oculta, ai lá isso há!

São ocultas as razões que levam os mais distintos magistrados, juristas, juízes e advogados da Nação a envolverem- se numa zaragata pública sempre que um político é investigado.

São ocultas as interpretações jurídicas que motivam um procurador e um juiz a acharem que ouviram um crime onde, garante agora Noronha de Nascimento, não haverá afinal nada que dê “sugestão de algum comportamento com valor para ser ponderado em dimensão de ilícito penal”.

São ocultas as atracções fatais que empurram para o precipício do descrédito, cada vez que abrem a boca em público, mentes brilhantes como as do presidente do Supremo Tribunal de Justiça ou do procurador-geral da República.

São ocultas as leituras que levaram um juiz de instrução criminal a achar que deviam ser válidas escutas com o primeiro-ministro, quando a Lei diz o contrário. Mais obscuros ainda são os raciocínios que ditaram a existência dessa Lei, escrita para “salvar”da coscuvilhice judiciária, em casos que não envolvem o exercício de funções de Estado, o Presidente da República, o primeiro-ministro e o presidente da AR, num abuso de privilégio de Poder digno de sinistras ditaduras.

São ocultos os acordos de corredor feitos a seguir a processos-crime com políticos e quelevam a uma repetida modificação “a la carte”de partes do Código Penal e do Código do Processo Penal.

São ocultas as investigações que começam por “prometer” à opinião pública um suborno de 10 mil euros e acabam com uma pífia acusação de “crime de tráfico de influência”. Mas também são ocultos os mecanismos que levam a, na paz dos anjos, o arguido Armando Vara ter ontem regressado ao banco onde jurou não voltar até tudo estar esclarecido.

São ocultas as alavancas que empurram José Sócrates para a suspeita constante: O homem já mastigou insinuações de alegada homossexualidade, dúvidas acerca da obtenção de um diploma universitário, um hipotético caso de suborno no licenciamento do Freeport e conversas que poderiam configurar um crime contra o Estado de Direito.

São ocultos os caminhos que levam as sucessivas investigações ao primeiro-ministro, jornalísticas e criminais, acabarem num desencantado silêncio ilibatório. É insólito haver tanto tiro contra um homem só mas, ao mesmo tempo, é muito mais estranho a pontaria de tantos atiradores estar coerente e aparentemente desafinada.

Conclusão: O irónico homem que inventou o nome “Face Oculta” para identificar uma fraude sucateira conhece mesmo muito bem o país onde vive.



in "Diário de Notícias", 5 de Janeiro de 2010

1 comentário:

  1. COMENTÁRIO INSERIDO NO SITE DO DN (http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1461886):

    ARC
    05 Jan 2010, às 16:23 - Portugal - Aveiro
    Pedro Tadeu,no seu artigo de opinião, transmite e denuncia,com excepcional profissionalismo,toda a carga politica que disputa o protagonismo conveniente entre as partes envolvidas no processo Face Oculta.Nunca a justiça foi tão maximizada nas suas fragilidades e infidelidades.E o mote é dado quando politicos estão indiciados em processos crime.A "justiça" já não é dispositivo de segurança.

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