Isto não é só uma questão de sorte

Tenho uma filha de 15 anos que é a melhor filha do mundo: é bonita, inteligente, divertida, não dá problemas. É verdade que namora um tipo com 1,90m, o que é um bocado acima do recomendável, mas como eu acho que não devo abusar da sorte, trato de não me queixar e até sou simpático para ele.
Quando eu e a minha mulher decidimos fazer esta menina, eu já tinha cá na cabeça a ideia de não fazer outros filhos. Porquê? Por achar que não tinha condições de vida para dar a dois ou a três o que achava essencial e podia, apenas, dar a um.


Acontece que a decisão se tornou mais firme ao longo do tempo por duas razões: a profissão tornou-se cada vez mais exigente, pelo que fui tendo cada vez menos tempo para dedicar à família, e tive tanta sorte, mas tanta sorte com a minha filha, que acho que seria chamar o azar arriscar fazer um segundo pois o infeliz, comparado com a Joana, ia certamente perder na comparação e seria um injustiçado pelo pai.

Se fosse mais generoso e, como os casais que se apresentam nesta revista, fosse pai de 10 ou 12 crianças, creio que resolvia tudo com um apito. Não havia diálogo, carinhos, zangas ou birras. Instituía-se um código de apitos para executar tarefas (por exemplo: dois apitos curtos equivalia a fazer as camas; três apitos longos mandava alguém lavar a loiça, etc.) e como eles eram tantos e o trabalho tão gigantesco, ficava especado no meio da casa, todo o dia, armado em polícia sinaleiro... Como é que aqueles pais das famílias numerosas conseguem ser tão felizes!?

A verdade é que há muitas maneiras de ser feliz, não é só uma questão de sorte. Talvez um dia Filipe Gaidão, que já venceu tantos azares na vida, não se importe de ser um exemplo e nos queira explicar como soube, também, ser um homem feliz.
in 24horas, 23 de Abril de 2005

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