Sim, é verdade, sou um ignorante

Não me quero armar em carapau de corrida (há anos que me apetecia escrever esta expressão nos jornais), mas a peça nesta revista sobre hobbies dos ministros proporcionou-me uma curiosa reflexão (esta, então, queria mesmo escrevê-la há décadas...).


Eles, quase todos, lêem que se fartam, devem ser verdadeiras enciclopédias vivas. Eu, profissionalmente, passo o dia a ler textos de jornais. Fora isso, no tempo livre, há anos que desisti de ler romances novos (é raríssimo encontrar uma narrativa que, no fundo, não seja igual a qualquer coisa que já li antes), só os leio quando já são velhos e estão fora das bocas do mundo. Interesso-me militantemente por História. Mas isto é vício, porque o proveito real, a aquisição de novos conhecimentos ou o prazer de deparar com uma perspectiva diferente sobre uma sociedade, não é frequente.

Quanto a Filosofia, está fora do alcance da minha compreensão e, infelizmente, vivo demasiado depressa para parar para pensar. A Política é mais do mesmo. A Poesia dá-me sono. Sobre ciências exactas, falta-me saber Matemática para realmente as compreender. Psicologia, Sociologia e Economia estão próximas da fraude. A singela banda desenhada estagnou há 20 anos. Resta-me assumir que sou estúpido, bronco e imbecil.

Portanto, eu leio pouco ou, no passado, li demasiado. Ou, então, publicam-se demasiadas vezes livros que não interessam nem ao Menino Jesus. Por exemplo: aposto que o “Código Da Vinci”, o preferido do ministro da Agricultura, é pura perda de tempo. Se daqui a 5 anos ainda se falar do texto de Dan Brown, juro que o leio. Mas desconfio que faço bem em manter-me na ignorância.
in 24horas, 16 de Abril de 2005

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