Mata-me este medo das doenças

Faço o possível por não ir ao médico. Quando era miúdo e ia lá para uma visita de rotina saía sempre doente, com uma receita de comprimidos passada e uma lista infindável de exames e análises a fazer, o que era muito inconveniente para as minhas saudáveis tardes a jogar futebol com os amigos.

Assim que tive autonomia para isso deixei de ir ao médico. Em vinte e tal anos fui lá uma primeira vez por ter apanhado uma pneumonia, uma segunda vez para fazer um seguro de vida e uma terceira para ouvir conselhos sobre a maneira de deixar de fumar.

Da primeira vez curaram-me a doença à força de antibióticos mas ameaçaram- -me com a morte para breve caso eu não fizesse uma vida decente. Prossegui a vida indecente do costume e ainda cá ando. Da segunda vez chegaram à conclusão que a companhia de seguros perdia dinheiro se eu não arranjasse maneira de me transformar num tipo saudável. Preferi pagar um prémio mais caro. Da terceira vez encorajaram-me a deixar de fumar mas acharam que eu tinha poucas hipóteses de êxito. À traição, aproveitaram-se da minha fraqueza e enfiaram-me a vacina contra o tétano, o que não tinha nada a ver com o assunto. (A propósito: senhora doutora, não fumo há cinco meses!).

No fundo, como toda a gente, eu tenho é um medo louco de morrer e, como toda a gente, sempre que sei mais coisas sobre a minha saúde ou leio artigos como o ranking desta semana nesta revista onde vejo sintomas de doenças fatais que imagino logo ter, esse receio cresce até ao nível do pânico.

A ignorância é perigosa mas o saber mata de medo. Pelo menos para um mariquinhas como eu.
in 24horas, 30 de Abril de 2005

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