A extraordinária rapariga esotérica

Numa fase do liceu fiz parte de um grupo de 20 ou 30 adolescentes que saíam juntos para todo o lado. A maioria eram raparigas. Pertenciam a uma tribo que nós, os machões atrevidotes, designávamos por “freaks-betas”. O que eram as “freak-betas”? Poderei descrever desta forma: apesar de usarem saias indianas compridas a esconder o corpo, apesar de preferirem botas caneleiras a sapatos de cabedal, apesar de se matarem por um lenço palestiniano e ignorarem olimpicamente qualquer pedaço de seda Chanel... eram lindas de morrer!



Uma das miúdas desse grupo era uma morena pestanuda, de voz suave e modos calmos. Tinha, apenas, dois defeitos: não me ligava nenhuma e manifestava demasiado interesse por matérias esotéricas como espiritismo, parapsicologia, vida para além da morte e não sei que mais.

Um dia, no meio de uma reunião deste grupo num café-concerto que na altura frequentávamos, a tal morena, sempre tão calma, irrompe num pranto e pede a um de nós para, depressa, a levar para casa. Porquê? Porque se passava qualquer coisa com o irmão. Como é que ela sabia? Sabia, pronto.

Não foi espiritismo. Ela tinha um irmão gémeo e, não sei como, sentiu que havia problemas.

Desde esse dia fiquei com uma curiosidade enorme em tentar perceber esse mecanismo dos gémeos. Nesta revista tento responder às perguntas que, desde então, faço a mim próprio e que, caro leitor, certamente gostaria também de ver respondidas.
in 24horas, 9 de Abril de 2005

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