Sim, podem chamar-me gordo

Sim, estou gordíssimo e, por isso, até já pus a hipótese de fazer uma dieta. Nunca, na vida, pensei andar preocupado com esta questão. Mas a verdade é só uma: cada vez compreendo melhor os malucos (e as malucas) das dietas.

Vamos lá ver: durante 41 anos Pedro Tadeu era sinónimo de magrinho, lingrinhas, esterlicadinho, fio de azeite, magricelas, tipo que passa pelos intervalos da chuva. A minha mãezinha tornou-se obcecada em mandar-me comer, pois receava a minha morte próxima, por anemia ou qualquer doença do género “fraqueza”. A louca da minha mulher elogiava a minha ausência de barriga e achava graça ser capaz de rodear o meu corpo apenas com um braço. Enfim, habituei-me a ser um gajo com mau aspecto e fiz disso um estilo, ou melhor, uma personalidade.

Portanto, Pedro Tadeu era um sujeito com 1 metro e 78, levitando em 54 quilos. E era feliz. Até ao momento em que decidi deixar de fumar. Curado o vício, um dia, na casa de banho, passei nu, de fugida, frente ao espelho e, pelo canto do olho, vi qualquer coisa estranha. Recuei, olhei melhor e..., sim, era uma barriguinha! Uma pequena, insignificante e miserável barriguinha! Fui à balança. A primeira vez em 10 ou 15 anos...

Como sempre fui um esfomeado, não consigo parar de comer. A dieta é impossível. Fazer ginástica parece-me incómodo a mais. Tomar pílulas deve ser perigoso. Voltar a fumar é um suicídio. Portanto, ao contrário dos vitoriosos sobre o estômago hoje em foco nesta revista, vou ter de admitir a derrota e habituar-me a um novo Pedro Tadeu, um tipo que continua feioso mas, ainda por cima, um pouco roliço. Talvez arruíne a minha vida e os que me amam passem a detestar-me, pois não sou a mesma pessoa. É que, afinal, 65 quilos é uma enormidade! 
in 24horas, 18 de Junho de 2005

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