Os mistérios que abalam Portugal

Antes de Carlos Cruz trazer para Portugal “Gabriela, Cravo e Canela”, as novelas que divertiam o País eram duas: a luta política e os mistérios dos jornais. Adorei o caso do “Leão de Rio Maior”.

Se a memória não me atraiçoa – eu nessa altura tinha para aí uns 12 anos – o jornal “A Capital”, creio que através de uma reportagem de José Sarabando, futuro director do jornal, trouxe a notícia em primeira mão: umas capoeiras tinham sido atacadas na zona de Rio Maior e a criação foi selvaticamente comida. Alguém jurava que tinha visto um gato enorme. Estava feito o caso – andava um leão à solta em Rio Maior. Foi a histeria!

Todos os dias, “A Capital” e o “Diário Popular” (os jornais circunspectos acompanhavam a coisa mais à distância) disputavam “cachas” sobre o acontecimento: ou umas pegadas misteriosas, ou mais animais mortos, ou mais um velhote camponês que jurava que o tinha visto. Escreveram-se indignados editoriais ao estilo, “então as autoridades nada fazem!?”(aí, claro, os ditos jornais circunspectos fartaram- -se de brilhar). As populações diziam-se inseguras. Presidentes de câmara, governadores civis, polícias, políticos e governantes pronunciaram-se sobre o assunto ou largavam piadas. E o jornalista Fernando Pessa, da RTP, deslocou-se a Rio Maior para realizar uma reportagem a preto e branco, meio gozona, mas a deitar mais achas para a fogueira.

Ofinal é que não foi digno de novela: se não estou em erro, tudo não passava de uma matilha de cães abandonados que fazia pela vida e caçava o que encontrava.

Agora que somos um país evoluído, com TV a cores, vários canais privados, e com um único leão em Rio Maior (o cartoonista Maia, que faz o desenho desta página), há que dizê-lo: o que é esta história ao pé do mistério que nos próximos meses vai ocupar a cabeça dos portugueses? Quem matou o António? Eu aposto na criada. Mas devo estar errado.
in 24horas, 2 de Julho de 2005

Sem comentários:

Enviar um comentário