A luta pela sua própria verdade

Qual é a melhor maneira de resolver o impacto de um erro de palmatória? Daqueles que cometemos de forma pateticamente vistosa, provocando comentários por todo o lado? Daqueles que nos enchem de vergonha por, ainda por cima, embaraçarem as nossas mãezinhas? Daqueles que se arriscam a ficar colados à nossa pele, para toda a eternidade, com uma frase do tipo: “Olha o Tadeu, o fulano que fez aquela gaffe genial...”?

Eu só conheço duas maneiras de resolver isto: ou ser o primeiro a confessar tudo ou negar tudo até à exaustão dos outros. Na vida tenho, na maior parte das vezes, optado pela primeira hipótese. Isto resulta do que aprendi nas escola. De vez em quando um colega qualquer experimentava pespegar-me uma alcunha. Por exemplo: “Tu és o Salsicha!”, gargalhava um, a propósito da minha magreza. Eu sorria e dizia: “Pois é, que engraçado, é mesmo tal e qual!”. E seguia em frente, como se nada se passasse. O riso do outro esmorecia, lia-lhe mesmo na cara o pensamento “este tipo não se pica com nada”, e o dia prosseguia com actividades mais interessantes como, por exemplo, ir para umas obras fazer batalhas de lançamento de tijolos partidos.

Mas quando o assunto é mesmo sério há que recorrer à outra técnica, que exige muito maior persistência, não resulta totalmente e deixa marcas profundas, pois obriga a uma luta desgastante. É o caso dos árbitros de futebol que hoje entrevistamos, a propósito de supostos erros de julgamento que influenciaram resultados em jogos decisivos. Todos eles negam ter cometido tais erros e apresentam muitos e bons argumentos para sustentar as suas teses. Eles negam e provavelmente estão cheios de razão. Mas muitos e muitos continuarão a dizer que eles não têm tudo menos essa tal razão. Para estes árbitros, a luta pela sua verdade ainda agora começou.
in 24horas, 4 de Junho de 2005

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