Vão morrer dois milhões de portugueses

Cavaco Silva lembrou que até 2035 não nos livraremos daquilo que Paulo Portas designou de estatuto de "protetorado". Se a média de óbitos dos últimos dez anos se mantiver isto significa que, daqui até lá, mais de dois milhões de portugueses morrerão antes de Portugal voltar a ser verdadeiramente livre. Nem uma guerra pela independência provocaria tal calamidade.

O País só tem licença para gerir a sua vida sem fiscalização da troika quando o Presidente da República, a maior parte da classe política portuguesa, o grosso das elites nacionais e o autor destas linhas já nada riscarem na história... Que ironia!

Segundo o mapa de exigências europeias, Portugal terá de pagar uns 100 mil milhões de euros de dívida em 20 anos, o que dá cinco mil milhões por ano, o que implica que o Orçamento do Estado registe um excedente dessa dimensão, o que obriga a eternizar a austeridade e, ao mesmo tempo, a conseguir um crescimento anual do produto nominal de 4 por cento, coisa nunca vista em terras lusas. Seria um milagre. Não é realista.

O roteiro desenhado pelo Presidente da República é este: negociar o melhor programa cautelar que a Alemanha e o Banco Central Europeu estiverem dispostos a aceitar (prudência óbvia no curto prazo, mas que nada resolve) e obrigar PS, PSD e CDS a comprometerem-se a pagar, sem fazer mais dívida, cinco mil milhões por ano, durante uma geração. Na prática, dado o policiamento às nossas contas, isto significa entregar, sem discussão, o governo de Portugal à Europa.

Para (repito) PS, PSD e CDS há um prémio: de quatro em quatro anos alternam, placidamente, na gestão de uma comissão executiva sediada em São Bento.

Mesmo assim, daqui a 20 anos, falharemos o objetivo financeiro. É matemático. De arrasto mataremos qualquer hipótese de justiça social pois o crescimento da economia não beneficiará na proporção justa a população - vai tudo para a dívida. Continuaremos de mão estendida, pedindo esmola. Por fim, perderemos qualquer sentido de autonomia do nosso Estado: o "protetorado" passa, ao fim de 23 anos, a ser normalidade nacional.

Cito o texto presidencial divulgado pelo Expresso, "o futuro de Portugal e dos portugueses exige um elevado sentido de responsabilidade por parte dos diversos agentes políticos, económicos e sociais, bem como a informação e o esclarecimento da opinião pública, domínio em que os meios de comunicação social deveriam exercer um papel do maior relevo".

Pergunto: é este um caminho responsável para, daqui a 20 anos, entregar Portugal aos nossos filhos e netos? ... É?... A sério?!.

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