Lembrei-me que o 25 de Abril de 1974 vai fazer 40 anos e de como Portugal era diferente: guerra nas colónias, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado, licença para poder usar isqueiro... Penso nos dias de hoje, no quanto, apesar de tudo, avançámos. Tenho esperança que um meu neto, daqui a 40 anos, vá um dia enumerar, com espanto:
"Imaginem que no tempo do meu avô os estudantes universitários eram praxados, obrigados a cacarejar como galinhas ou a simular atos sexuais em público; as crianças abandonadas em instituições não podiam ser adotadas por casais homossexuais; ninguém participava na gestão do seu bairro; os pais achavam que quem devia educar os filhos eram os professores; os adultos nunca mais estudavam quando começavam a trabalhar; Fernando Pessoa, José Saramago e Gonçalo M. Tavares quase não eram lidos no ensino obrigatório; a Matemática, a certa altura, era facultativa e, vejam lá, não existia a disciplina de Descodificação da Comunicação Social e das Tecnologias de Informação."
"Nesse tempo os automóveis queimavam gasolina, custavam uma fortuna e, mesmo assim, todas as pessoas os queriam. Fumava-se tabaco. Havia gente a dormir na rua e peditórios nacionais para lhes arranjar comida; os serviços de saúde eram pagos e diferentes para quem fosse rico ou pobre."
"Mais de metade da população não votava; os políticos saíam diretamente do Governo para empresas que negociavam com o Estado; os jornalistas nunca assumiam publicamente os erros que cometiam; os tribunais demoravam 10 anos a sentenciar a simples disputa de uma herança; o Estado podia penhorar os nossos bens antes de decidir se tinha razão para isso; as prisões somavam mais condenados do que lotação; um polícia arriscava a vida por pouco mais do que o salário mínimo, mas podia fazer gratificados."
"Portugal estava a ser governado por uma comissão estrangeira; os trabalhadores nas empresas privadas tinham medo de fazer greve; os patrões não podiam despedir preguiçosos ou incompetentes; um desempregado, ao fim de 18 meses, era abandonado pelo Estado à sua sorte e deixava de constar nas estatísticas."
"As origens das fortunas pessoais não faziam parte da informação pública; as declarações de impostos eram secretas; os donos das empresas nunca dividiam lucros com os empregados; um quinto da população ganhava 5,8 vezes mais do que o quinto mais pobre e as 25 pessoas mais ricas de Portugal valiam 10% do PIB... Ah! E só para se rirem: as notícias eram lidas em jornais!"
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