Cláudia e Natália, 45 e 41 anos, estavam à frente da firma de construção civil herdada do pai quando a crise estalou. Contam que, de repente, deixaram de ter clientes, perderam o crédito bancário e despediram 250 trabalhadores. Ficaram com 150. Isto foi em 2008. Agora gabam-se de ter conseguido expandir o negócio e de a firma viver em prosperidade. Não leram como foi? Eu conto.
O Governo, dizia a notícia, abriu uma linha de crédito de 1,1 mil milhões de euros para apoiar as pequenas e médias empresas. Esse apoio foi utilizado pelas irmãs como garantia para obter empréstimos bancários. Compraram uma fábrica de cimento.
Passaram a ser a única empresa familiar e as duas únicas mulheres do país donas de uma cimenteira mas, mais do que uma originalidade, procuravam o êxito. Conseguiram. Relatam, contentes: "Hoje, já temos 250 funcionários e calculamos que, indiretamente, criamos quatro vezes mais. Todo o ambiente económico é diferente. Vamos continuar a crescer."
Foram homenageadas pelo Governo e até tiveram direito a uma visita pessoal ao Presidente da República. Não, não foi a Cavaco Silva porque esta história de duas portuguesas passa-se nos Estados Unidos e o apoio às pequenas e médias empresas de que elas falam nada tem a ver com os mil milhões de euros que a estatal Caixa Geral de Depósitos anunciou ter para firmas equivalentes mas cujo efeito prático é, simplesmente, desconhecido.
O apoio às pequenas e médias empresas a que Cláudia e Natália recorreram nada tem a ver com a promessa de maio, dada a Vítor Gaspar e noticiada com estardalhaço pelo Governo da senhora Merkel, de a banca e o empresariado alemão irem investir nesse sector empresarial português. De maio até cá o estardalhaço afunilou num estreito sopro de silêncio.
O apoio às pequenas e médias empresas que funcionou na América nada tem a ver, obviamente, com o fracassado programa Revitalizar com que o bondoso Álvaro Santos Pereira tentou salvar da falência milhares de empresários mas que ontem mesmo um secretário de Estado declarou oficialmente ser um fracasso.
Não. A M. Luís Construction salvou-se porque pediu para aderir a uma coisa chamada State Small Business Credit Initiative, criada pela administração Obama, o Presidente que recebeu Cláudia e Natália no domingo passado.
Por cá, a solução para a crise, como sabemos, é outra: cortes nos apoios sociais e nos serviços estatais, impostos inflacionados, despedimentos massivos. Isto acabará, claro, num segundo resgate pela troika, que duplicará a dose de austeridade.
Por cá, quem espera ou pede apoio do Estado ou é irresponsável ou é comunista.
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