O "briefing" de Maria Luís Albuquerque

Quem se interessa pelos problemas sérios desta sociedade terá ignorado a novidade: os briefing (a tradução literal deste termo inglês é "instruções") que todos os dias úteis, às 12 horas, serão dados aos jornalistas pelo Governo. Ontem foi o primeiro.

Às 10 da manhã os jornalistas credenciados foram avisados: o tema a tratar duas horas depois seria o dos swaps (tradução literal: "trocas") e estaria lá a secretária de Estado Maria Luís Albuquerque.

Pedro Lomba, o mestre de cerimónias destes eventos, graduado em secretário de Estado, recebeu os antigos colegas de profissão e explicou as regras: uma delas era que poderia acontecer haver momentos em que as declarações feitas aos 30 ou 40 jornalistas presentes seriam em on (que mania têm pelo inglês!) e poderiam ser publicadas identificando a fonte da informação ou, em alternativa, em off (irra!), situação em que as ditas declarações passariam a ser citáveis sem atribuição de fonte.

Acontece que à hora em que Maria Luís Albuquerque comunicou aos jornalistas as suas "instruções" sobre o problema das "trocas" financeiras tóxicas em empresas públicas juntou, em on, a declaração de que não recebera de Vítor Gaspar informação sobre a matéria, passada antes pelo ministro das Finanças de José Sócrates, Teixeira dos Santos.

Três horas depois a TSF noticiava que Vítor Gaspar se demitira. Quatro horas depois o Governo comunicava que esta senhora era a nova ministra das Finanças.

Talvez hoje o mestre de cerimónias, na nova sessão de colocação de notícias, diga, em off, qualquer coisa que esclareça esta questão: sabendo, certamente, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, à hora do briefing, que a doutora Maria Luís Albuquerque já era ministra das Finanças, porque a deixou fazer exercício tão hipócrita, ainda por cima para "enterrar" o seu antecessor? Que feio!

Talvez hoje ou, quiçá, amanhã o mestre de cerimónias nos apresente a ministra que ontem era secretária de Estado para esta, então, explicar porque aceitou fazer tal figurinha. Porque não se adiou a cena?

Sempre que oiço um governo prometer melhorar a comunicação penso que estão a enganar-me. Este Governo, no entanto, não engana. Porquê? Porque o problema deste Governo não é, a sério, um problema de comunicação.

O problema deste Governo é de conteúdo, carácter, competência, ideologia e política. Esta nova ministra, vê-se, comunga de todo este projeto global e, portanto, nada de essencial mudará no Governo com a saída de Vítor Gaspar. O briefing de ontem foi, portanto, muito útil porque comunicou esta mensagem muito bem.Venham mais.

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