Quase todos os dias, nas notícias ou na publicidade, aparece a palavra "revolucionário" associada a um novo medicamento, a um automóvel, a um champô, a um aparelho eletrónico. Essa sedução pela mudança, pela rutura com o caduco, esse desejo de chegar mais rapidamente ao melhor está tão arreigado à natureza humana que se tornou instrumento de comércio global.
Ser "revolucionário" é, no entanto, no nosso mundo ocidental, um conceito político delatado, combatido, ridicularizado ou temido.
Portugal passou por uma revolução há pouco tempo. Atravessou uma breve convulsão, de ano e meio, mas criou um regime com representação política democrática e uma sociedade diferente da anterior. Não houve terror, não houve ditadura, não houve banho de sangue, não houve líder para culto da personalidade. Os políticos, os partidos que formaram o novo regime, combateram-se ferozmente mas evitaram a guerra civil e acabaram por estabelecer um modus vivendi pacífico.
Como provam as estatísticas, seguiu-se o mais longo período de liberdade e prosperidade vivido no país em séculos: 35 anos. Faltou-lhe verdadeira justiça: nos tribunais e, pior ainda, fora deles, na distribuição da riqueza e dos equilíbrios sociais, o que faz duvidar de estarmos em verdadeira democracia. Mas foi uma grande melhoria.
A tragédia de hoje é sequência dessa revolução, iniciada em 1974, mas está totalmente por provar que seja verdadeira consequência dela. Pelo contrário, quanto mais nos afastamos dos princípios revolucionários, pior ficamos.
Apesar da experiência do 25 de Abril, parece, ninguém gosta de revoluções políticas, mesmo se limitadas ao seu sentido mais tímido, o que, na situação presente, significa, apenas e só, acelerar o processo que termine com a política de austeridade e com a tutela estrangeira sobre as finanças do Estado - um garrote que já dura há mais tempo do que durou o PREC.
Quando vemos pessoas ideologicamente tão distantes quanto Pacheco Pereira (PSD), Mário Soares (PS) ou Domingos Abrantes (PCP), adversários políticos de uma luta duríssima no pós-25 de Abril, encontrarem causa suficiente para discutirem a forma de conseguir aquele objetivo, soa uma campainha. Pode ser um fogo fátuo, inconsequente. Pode ser, na versão limitada atrás exposta, uma pequena fagulha de espírito revolucionário.
Apesar da pouca ambição dessa hipotética revolução, a questão que todos os opositores do Governo defrontarão é esta: quem quer ser contrarrevolucionário? António José Seguro, o líder do PS, que oscila na atitude, se fosse claro, teria de responder, já, a essa curta e fatal questão.
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