E não se discutem os salários do PSI-20?

Somam 61 milhões de euros as remunerações anuais recebidas pelos gestores de 19 empresas do PSI-20 (o Jornal de Negócios, que me referencia, não sabe os valores de uma das cotadas deste índice da Bolsa de Lisboa, a Portucel).

101 gestores de segunda linha receberam uma média de 608 mil euros, umas 55 vezes acima do salário médio anual de um trabalhador, que estimo em 11 mil euros (sim, estou a ser otimista). Estes 101 doutores e engenheiros criam, por si só, individualmente considerados, a riqueza produzida por 55 trabalhadores?... Duvido.

Os 19 presidentes de conselhos de administração destas empresas, que em média receberam 812 826 euros, valem, com o seu talento, esforço, dedicação e sabedoria (nunca postos em causa), o talento, o esforço, a dedicação e a sabedoria de 120 trabalhadores (sempre postos em causa e, nestes tempos, a caminho do despedimento) contratados pelo salário mínimo? Este fosso justifica-se?

Tudo isto é ainda mais bizarro se percebermos que há sete empresas que remuneram os seus CEO muito acima da média e que, em contrapartida, há 11, a maioria, que dão aos seus líderes de topo valores muito mais baixos do que as outras pagam a gestores de segunda linha.

Isto faz supor que EDP, Galp Energia, Semapa, PT, Jerónimo Martins, Zon Multimédia e Sonae SGPS, as responsáveis por essa distorção, nem as práticas classificadas como convencionais, normais e razoáveis do mercado em que se inserem estão a seguir.

Note-se que empresas como a EDP e a PT, cujos resultados em 2012 caíram, no primeiro caso, 10% em relação ao ano anterior e, no segundo caso, 32%, não reduziram, na mesma proporção, os pagamentos aos seus gestores.

Em contrapartida, a maior parte da banca (BES, BPI e BCP) cortou entre 31,3% e 43,7% as remunerações aos seus líderes, exemplo olimpicamente ignorado pela maioria dos outros gestores (de quem esses bancos, se calhar, até são credores), apesar das dificuldades da crise, aparentemente, serem iguais para todos, pelo menos se nos guiarmos pelas entrevistas que dão aos jornais e pelos relatórios das contas das suas empresas.

Por exemplo: o CEO do Banif, Jorge Tomé, banco sob intervenção do Estado, teve apenas 10,9% do salário do seu posto cortado e em nove meses recebeu 316 299 euros, fazendo supor que, se tivesse exercido o cargo durante todo o ano, receberia mais do que Ricardo Salgado, do BES, ou Fernando Ulrich, do BPI.

Ironia final: os contribuintes emprestaram ao Banif, para o salvar da falência, 700 milhões de euros, à beira do dobro do valor da taxa que Passos Coelho quer cobrar aos reformados.

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