Na primeira, o magnata da Sonae diz que "os diretores são uns cagarolas e cada vez que um quer mexer numa peça é automaticamente acusado de censura".
Na segunda, o capitalista marca Continente declara que "os custos do Público estão bem identificados: 50% são encargos com pessoal, 38% são custos de produção do jornal e 12% são custos de telecomunicações e outros. Os custos com pessoal devem descer substancialmente".
Comecei nos jornais em 1983. Passámos da máquina de escrever ao computador, do telex à Internet, do filme em negativo à fotografia digital, da fotocomposição ao computer to plate, do suporte em papel aos websites, telemóveis e tablets. Trabalhamos agora com texto, fotos, gráficos, som e vídeo.
Nestes 30 anos a medida mais popular de gestão nos jornais em crise foi sempre a mesma: cortar custos salariais, despedir. Quase sempre a empresa jornalística que a aplicou ficou, depois, em pior situação financeira. Como diria Cavaco Silva, é uma espiral recessiva.
No caso de Belmiro, no entanto, a afirmação que citei é tristemente irónica pois há 23 anos foi ele o responsável pela súbita inflação dos salários dos jornalistas ao pagar remunerações "principescas" aos fundadores do Público.
Essa fatura, gigantesca para a dimensão do nosso mercado, ainda hoje está a ser paga por Belmiro e pelos outros patrões de imprensa, que tiveram de acompanhar as subsequentes flutuações das paradas do jogo salarial então iniciado e que hoje se veem perante uma folha de pagamentos irracional para as empresas e injusta para os jornalistas mais jovens. Belmiro de Azevedo está, portanto, na primeira linha dos culpados da crise na imprensa. Lendo aquela entrevista, no entanto, vê-se que o senhor Optimus está longe de achar isso.
Dizem-me que a imprensa terá de reduzir custos, de forma brutal. Sim. Mas se pensarmos que nesta fábrica a matéria-prima, a notícia, só pode ser extraída e transformada por jornalistas, não me parece nada exagerado que eles valham 50% do total de custo das empresas.
Mas quem sou eu para dar lições de gestão ao engenheiro Belmiro? Portanto, calo-me... E até reconheço estar de acordo com ele: há, de facto, demasiados diretores cagarolas que dizem aos patrões apenas aquilo que eles querem ouvir. Isso - está nos livros - mata jornais e arruína empresários de jornais.
Crónica publicada no Diário de Notícias em 12 de Março de 2013
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