Passos Coelho é um campeão

Pedro Passos Coelho quer facilitar os despedimentos. Para o desenvolvimento económico do País, para a competitividade, para dar maior flexibilidade ao mercado de trabalho. Até quer despedir o termo "justa causa" da Constituição!..
Há ou não há uma crise de desemprego sem precedentes neste país? É ou não é verdade que a OCDE prevê que, no final do ano, estarão sem trabalho 650 mil portugueses? E isto não significa quase 12% de população activa sem produzir? Não teremos famílias e famílias a viver do Estado, dos subsídios de desemprego, e a consumir muito pouco do que o mercado tiver para vender? Isso não é, inevitavelmente, calamitoso?
E as empresas que, nos últimos três anos, puseram na rua 210 mil trabalhadores? Tiveram alguma dificuldade em fazê-lo? Não chegaram a Tribunal de Trabalho com argumentos tão vagos quanto o das "dificuldades conjunturais" ou o da "necessidade de redimensionamento"? Não conseguiram os
despedimentos em três meses, sem estarem sujeitas a auditorias sérias às suas contas, sem apresentarem planos de viabilização económica (de aplicação realmente fiscalizada) e sem mostrar salários e gastos pessoais dos seus administradores e gestores?
Dizem que despedir um incompetente ou um preguiçoso é difícil. Para isso já se inventou o "despedimento por inadaptação". O patronato pouco recorre a ele. Porquê? Apenas por uma razão: é preciso reunir provas, fazer relatórios, sustentar factos, uma maçada!... E com o aumento dos períodos experimentais - chegam a ser de dois anos! - mais o trabalho por contrato a termo certo, só mesmo uma gestão incapaz cria um problema desses a si própria!
"Ah!", dirá Passos Coelho, "mas o actual desemprego tem a ver com as empresas que faliram, não com os despedimentos". Não. Nos primeiros seis meses deste ano fecharam 5272 empresas e 1840 iniciaram processos de falência. Em contrapartida, noticiaram os jornais, foram constituídas 16 258 novas empresas, muitas mais dos que as que fecharam. Há, necessariamente, uma maioria de milhares e milhares de despedimentos por ano em empresas que não faliram e, provavelmente, até em algumas com boa saúde financeira. Se este não é um regime com facilidade em despedir, não imagino o que será! Se isto não é a tão famigerada flexibilidade, não imagino o que será!...
Passos Coelho deve ter aprendido a ser assim num estágio qualquer com os barões secretos do Grupo Bilderberg, o clube que tanto fez pelo mundo que agora se está a desmoronar. Passos Coelho pensa como um campeão. Sim, um campeão da amoralidade na economia de mercado.
in “Diário de Notícias”, 27 de Julho de 2010

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