A dada altura, Ricardo Salgado, dirigente máximo do Banco Espírito Santo e crónico candidato a pessoa mais influente do País, declarou, lapidar: "Tudo tem um preço, menos a honra." Faria de Oliveira, líder da
Caixa Geral de Depósitos e, admito, possível candidato a um dia ser candidato a pessoa mais influente no País, repetiu: "Tudo tem um preço, menos a honra."
Espantado, concluí que as trombetas contra Castela nada tinham a ver com a defesa da honra. Pela música parecia, mas a letra, afinal, era outra. Fosse a honra da pátria, a honra das telecomunicações portuguesas, a honra da imprensa nacional, dos políticos, dos empresários ou dos gestores portugueses, ela não estava em causa, já que, à primeira vez que a Telefónica subiu a oferta, só consegui ler ser inevitável a venda da Vivo, só me declararam, unânimes, estar o preço certo quase encontrado. Ah! E, na bolsa de valores, vi sublinhado vezes sem conta a PT subia, subia... Que honra!
Finalmente, já desiludido por este meu regresso às leituras periódicas sobre assuntos empresariais, onde impera um triste e rotineiro pensamento uniforme, procurei no último fim-de-semana informação suplementar. A nova verdade universal era esta: Zeinal Bava, o CEO da Portugal Telecom, "eleito três anos consecutivos o melhor administrador financeiro da Europa", ia embora, a não ser que a venda da Vivo não se fizesse ou se a Portugal Telecom comprasse outra operadora brasileira. Por outro lado, a SonaeCom e a Zon, concorrentes da PT, admitiam a fusão. Esta nova verdade avisava, explicitamente: os accionistas da PT terão de pensar duas vezes antes de quererem receber os milhões da "inevitável" venda da Vivo... A sustentação de tudo isto é vaga e baça. Como tudo o que antes li sobre o caso. Mas, deve ser isso, estes artigos são como a honra: não têm preço.
in Diário de Notícias, 8 de Junho de 2010
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