Quando Portugal entrou para o euro, estava avisado: tinha uns anitos para colocar o défice anual das suas contas públicas abaixo dos três por cento. Se não cumprisse, tal como outros países "menos importantes", era expulso. No ano em que, no entanto, a Alemanha não cumpriu esse objectivo, os donos do euro bateram os recordes de utilização da palavra "afinal". "Afinal" um valor tão baixo para um défice público era um exagero. "Afinal", citando uma célebre frase de outro contexto, "há mais vida para além do défice". "Afinal", era melhor rever esses valores que tanto limitavam o papel dos Estados membros na economia, pois, "afinal", era bom dar-lhes a possibilidade de se endividarem mais... Assim foi.
Veio entretanto a crise. Uma crise provocada por os grandes banqueiros e os seus amigos negociarem dinheiro de poupanças e investimentos como se fossem a versão premium da dona Branca. Financiavam-se uns aos outros e pagavam juros e lucros dessas operações uns aos outros, arrecadando uma riqueza que
não tinha correspondência no mundo real. A derrocada inevitável do esquema lá acabou por acontecer.
Os países mais ricos do mundo ocidental começaram por colocar na cadeia uns quantos bodes expiatórios e deram toneladas de dinheiro e de garantias à banca e seguradoras afectadas. Depois, viraram-se para o lado, à procura de quem pudesse pagar a factura.
Na Europa encontraram Grécia, Portugal, e Espanha, todos com défices públicos elevados e força política limitada. E voltaram à palavra "afinal": "Afinal" é preciso contenção na despesa. "Afinal" é mau para a economia os Estados investirem tanto. "Afinal" temos de voltar ao objectivo dos três por cento. A líder deste movimento é, claro, a Alemanha, a maquinista do comboio do euro, entretanto livre do seu próprio problema de dívida pública...
A consequência está aí: mais impostos, mais desemprego, mais cortes nos serviços públicos e uma enorme operação de propaganda política, caucionada pelos partidos do poder, a garantir que não há alternativa.
Ou seja: quem vai pagar a crise provocada pelos ricos são os trabalhadores, os pobres... "Afinal", para usar a mesma palavra que os senhores do mundo usam para mudar as regras do seu próprio jogo, o Estado sempre serve os interesses dos poderosos. "Afinal" sempre há luta de classes. "Afinal" sempre existe exploração do homem pelo homem. "Afinal" sempre perduram coisas enterradas na memória do, dizem, falecido marxismo... "Afinal", por menos, já se fizeram revoluções.
Veio entretanto a crise. Uma crise provocada por os grandes banqueiros e os seus amigos negociarem dinheiro de poupanças e investimentos como se fossem a versão premium da dona Branca. Financiavam-se uns aos outros e pagavam juros e lucros dessas operações uns aos outros, arrecadando uma riqueza que
não tinha correspondência no mundo real. A derrocada inevitável do esquema lá acabou por acontecer.
Os países mais ricos do mundo ocidental começaram por colocar na cadeia uns quantos bodes expiatórios e deram toneladas de dinheiro e de garantias à banca e seguradoras afectadas. Depois, viraram-se para o lado, à procura de quem pudesse pagar a factura.
Na Europa encontraram Grécia, Portugal, e Espanha, todos com défices públicos elevados e força política limitada. E voltaram à palavra "afinal": "Afinal" é preciso contenção na despesa. "Afinal" é mau para a economia os Estados investirem tanto. "Afinal" temos de voltar ao objectivo dos três por cento. A líder deste movimento é, claro, a Alemanha, a maquinista do comboio do euro, entretanto livre do seu próprio problema de dívida pública...
A consequência está aí: mais impostos, mais desemprego, mais cortes nos serviços públicos e uma enorme operação de propaganda política, caucionada pelos partidos do poder, a garantir que não há alternativa.
Ou seja: quem vai pagar a crise provocada pelos ricos são os trabalhadores, os pobres... "Afinal", para usar a mesma palavra que os senhores do mundo usam para mudar as regras do seu próprio jogo, o Estado sempre serve os interesses dos poderosos. "Afinal" sempre há luta de classes. "Afinal" sempre existe exploração do homem pelo homem. "Afinal" sempre perduram coisas enterradas na memória do, dizem, falecido marxismo... "Afinal", por menos, já se fizeram revoluções.
in Diário de Notícias, 25 de Maio de 2010
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