Ninguém é capaz - nem a lei o faz - de definir com facilidade o que é vida privada mas é em nome da sua defesa que Francisco Assis, líder parlamentar do PS, impede o debate de uma proposta que pretende tornar públicos os rendimentos dos contribuintes.
A riqueza de um país é um bem finito e a forma como essa riqueza está distribuída (e não a forma como cada um gasta o seu dinheiro, que isso, sim, parece-me indiscutível matéria de foro privado) deveria ser conhecida por todos. Por isso, as declarações de impostos, que a máquina do Estado possui, deveriam ser públicas.
Não se trata de um mero instrumento de combate à corrupção, trata-se de dar acesso generalizado a uma avaliação objectiva da existência, ou não, de justiça social - o cimento da construção do edifício democrático - e de aumentar a pressão sobre o poder para corrigir as distorções que existem.
Mas uma proposta dessas está condenada ao fracasso. Porquê? Porque há administradores de empresas em crise a levar para casa 50 ou 60 mil euros por mês. Porque há políticos profissionais a cobrar 25 mil euros mensais nos seus escritórios de advogados. Porque há directores de jornais com salários de 10 ou 15 mil euros. Porque há cronistas ou comentadores de TV a receber neste universo de remunerações, ditado por supostas tendências do mercado de trabalho que, afinal, ninguém conhece.
Esta gente, que lidera as ideias do País, nunca quererá revelar os seus rendimentos, nunca escreverá em defesa desta ideia. Eles têm êxito, mas também têm má consciência. E há ainda muito pavão, pelintra, com vergonha do seu fracasso financeiro, a querer escondê-lo da opinião pública.
Para uns e para outros essa informação afecta, como diz George Duby, como pensa Francisco Assis, "a honra" e, por isso, deverá ficar secreta... Só que isso não é honra, é hipocrisia.
Vivemos num país onde a maioria dos empregados ganha menos de mil euros por mês. Isto sim é uma desonra para Portugal... Defesa da vida privada, o tanas!
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