Tudo o que sei sobre divórcios

Estou casado vai para 18 anos mas, não fosse eu jornalista, é claro que tenho opiniões muito definitivas, inteligentes e inúteis acerca do divórcio. Vou dar três...

Em primeiro lugar, o divórcio não é um negócio de duas pessoas mas sim, no mínimo, do casal e mais uma: ou um amante, ou uma mãe, ou uma sogra, ou um amigo, ou um advogado, ou um agente imobiliário; há sempre alguém exterior que ajuda a desatar o nó do casamento. Duas pessoas sozinhas nunca o conseguem. Até Adão e Eva, condenados à eternidade no Paraíso, à falta de melhor procuraram a serpente para se libertarem da jura de fidelidade a Deus.

Em segundo lugar, o divórcio é mesmo uma morte, é mesmo o fim de uma vida e, tragicamente, há muita gente incapaz de renascer depois desse corte abrupto consigo próprio, desse confronto com a fraude do seu amor, dessa vergonha pelo tempo de falsificação da sua representação pública como indivíduo acasalado. É verdade que há quem aproveite as lágrimas – inevitáveis – para regar a alma e sair do processo florido e viçoso, pronto para outra metamorfose. Só que, lamento, mesmo esse renascimento é feito à custa da perda da inocência, da perda de tempo, da perda da juventude, da perda da espontaneidade, da perda... Nunca mais seremos os mesmos.

Em terceiro lugar, o divórcio é a prova que a Matemática é obra do demónio (talvez da mesma serpente que ajudou Adão e Eva): a divisão dos livros, a divisão das fotografias, a divisão dos discos, a divisão da casa, a divisão dos animais domésticos, a divisão das loiças, a divisão dos quadros, a divisão dos filhos (sim, até eles!), é a multiplicação de problemas insolúveis, é um somatário de agressões violentas, é a subtracção da nossa capacidade de discernimento.

A propósito de contas, reparo que me enganei no número de anos em que estou casado. Espero, por isso, não vir a aprender alguma coisa realmente útil acerca de divórcios...

in 24horas, 15 de Abril de 2006

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