O problema da existência de Deus

A religião é um assunto que me embaraça. Em primeiro lugar acho que, das duas uma, ou Deus não existe ou se existe não quer saber de nós, o que vai dar ao mesmo no que diz respeito à necessidade de o adorarmos. Mas o meu embaraço é provocado por outra razão: pelas muitas pessoas que amo ou respeito e, genuinamente, têm fé. Há uma boa parte da personalidade delas que não entendo, que não atinjo, e isso cria um fosso e uma distância inultrapassáveis entre nós. É uma angústia.

Outro nível de embaraço é um terrível sentimento transmitido por muitos dos supostos católicos que me rodeiam: pura hipocrisia. Ou só são religiosos na hora de aflição, ou só são religiosos para tirarem vantagens do meio social onde se inserem ou, até, só são religiosos quando isso dá direito a farra, como casamentos e baptizados. Aqui o embaraço é provocado por isto: eu terei de admitir que esta minha apreciação pode ser absolutamente injusta, pois como não tenho fé não posso entender quaisquer manifestações de fé, ainda por cima heterodoxas. Fico, portanto, caladinho.

Mas nesta questão a hora da verdade é mesmo a hora da morte. E, nestes 42 anos de vida, já vi muito ateu, muito agnóstico, a fraquejar nos momentos finais e a receber os sacramentos religiosos como o mais devoto dos católicos. Eles levaram uma vida de costas voltadas para Deus, mas, no fim, encomendam-lhes a alma. Talvez, quando chegar a minha vez, acabe por fazer o mesmo. Acho que não mas... e se Ele existe? Ficará muito zangado comigo? Afinal eu até sou bom rapaz. E uma eternidade no inferno é uma carrada de tempo...


in 24horas, 22 de Outubro de 2005

Sem comentários:

Enviar um comentário