Como elas são Belas & Perigosas

As mulheres muito muito perfeitinhas intimidam-me. É tudo tão bem colocado, é tudo tão proporcionado, é tudo tão bem desenhado que estou sempre com medo, por causa da minha língua cínica e dos meus gestos desajeitados, de acidentalmente acabar por destruir uma obra-prima da Natureza (ou da medicina, caso haja silicone envolvido). Estou a falar, é claro, de raparigas suficientemente perfeitas para não temerem subir a uma passarela seminuas, prontas a enfrentar milhares e milhares de pessoas, o exame severo da crítica profissional e o olhar lascivo de uns tontos fantasistas. Portanto, a minha falta de jeito levou-me sempre a fugir, a sete pés, de modelos e manequins.

Quando inventámos, há três anos e tal, a rubrica “Belas & Perigosas” iniciou-se uma evolução neste 24horas que me levou a, com alguma frequência, ter de lidar com mulheres desse tipo. A primeira vez custou-me um bocadinho, mas, depois, claro, habituei-me e passei a olhar directamente para os decotes delas. Com o tempo essa patetice passou-me, embora, repito, tanta perfeição me intimide um bocadinho. Mas alcandorado nesta já longa experiência posso relatar alguns factos interessantes.

Encontrei várias loiras inteligentes. Não achei nenhuma rapariga que andasse a subir na vida na horizontal. Nunca me cruzei com uma orgia de sexo, álcool e drogas. Muitas destas moças trabalham que é um disparate. Aprendi que a beleza física normalizada é um dom que só tem êxito se se vencer um desafio permanente de criatividade, talento e disciplina. E que ser Barbie já não interessa ao Ken. E, portanto, todas as mulheres podem ser belas e perigosas.
in 24horas, 5 de Novembro de 2005

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