Os deputados têm medo de um reformado com 70 anos?
Citando a presidente da Assembleia da República, o facto de os militares envolvidos no golpe de 25 de Abril de 1974 não irem às celebrações da Assembleia da República é um "problema deles". É verdade. Acontece, porém, que "o problema deles" traz também uma carrada de problemas para a "Casa da Democracia", para usar expressão grata a Assunção Esteves.
Os homens que fundaram este Estado, a que chamamos democrático, não vão às comemorações organizadas por esse mesmo Estado porque queriam falar. Disseram-lhes que não podiam. As razões não interessam, qualquer uma serviria para PSD e CDS.
O que interessa é que a Casa da Democracia, onde todas as semanas ouvimos disparates eleitoralmente mandatados, mostrou que tem medo de ouvir, em cerimonial, uma reprimenda, eventualmente idiota, possivelmente acertada, dada por um militar reformado com mais de 70 anos. O primeiro problema da Assembleia da República com os Militares de Abril, portanto, é ter medo do que eles dizem. Os deputados são cobardes.
Estes antigos revolucionários, estes "Pais da Democracia", não são donos do regime. Ainda bem. Quando se portam como tal devem ser criticados, como acontece a todos os que intervêm no debate público, eleitos e não eleitos. Uma maravilha permitida pelo exercício da liberdade de expressão instituída por esta "Brigada do Reumático", como ofensivamente já lhes chamaram. Mas a Casa da Democracia não lhes dá, ironicamente, liberdade de discurso oficial no 40.º aniversário da democracia que ergueram. O segundo problema da Assembleia da República com os Militares de Abril é, consequentemente, ser ingrata. Os deputados são frios.
Estes velhotes que tanto incomodam os representantes do povo renunciaram voluntariamente ao poder, já quase vazio mas que ainda detinham, a 30 de setembro de 1982, apenas oito anos depois de controlarem o País pelas armas. Mas para os dirigentes do PSD e do CDS, que não conseguem resolver a má relação que têm com o 25 de Abril, nem isso merece uma gentileza protocolar. O terceiro problema da Assembleia da República com os Militares de Abril é, já se viu, ser mal-educada. Os deputados são uns rudes.
Quando se assinalar o cinquentenário da Revolução dos Cravos a Natureza ditará, infelizmente, que quase nenhum destes homens estará vivo. Nessa altura vão atropelar-se homenagens no Parlamento. Talvez, finalmente, se decida levar Salgueiro Maia para o Panteão... Mas ninguém será incomodado com um discurso subversivo. O quarto problema da Assembleia da República com os Militares de Abril é, logicamente, ser hipócrita. Os deputados são uns falsos.
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