A famosa reforma educativa de Maria de Lurdes Rodrigues, espremida, não significava mais do que arranjar maneira de reduzir as despesas do Estado com a educação pública. O resto, imaginativo, erudito e hipócrita, era um exercício de malabarismo para defender, ideológica, legal e pedagogicamente, a odisseia. Quantos
governos PS ou PSD, anteriormente, tentaram o mesmo? Todos, com menos estardalhaço mas igual insucesso. Um atraso de vida, confirma-se.
As notas dos exames no secundário foram baixas. Nas disciplinas de Português as médias variaram, conforme os cursos, de 10,1 a 10,5 valores. Na Matemática foram de 8,7 a 10,8. A Física e Química 8,1... Uma normalidade, de décadas, com pequenas variações. Nela assistimos a uma tragédia incompetente, caucionada, no entanto, pela constante e milagrosa diminuição de chumbos. Um atraso de vida, portanto.
O nosso sistema de ensino, apesar de andar a distribuir um computador por cabeça, ignora ou apenas finge que dá atenção a elementos básicos de cultura geral. Quantos alunos aprenderam a tocar uma simples flauta de bisel na escola pública? Quantos alunos aprenderam uma dança, a entender um bailado, a perceber uma ópera? Quantos alunos conseguem identificar uma obra de arte famosa de Leonardo da Vinci, Goya ou Picasso?
Pior: A maioria dos alunos sabe construir um banco de madeira? Não! Cozinhar um ovo estrelado? Não! Cuidar de um cão? Não! Plantar uma árvore? Não! Isto já nem é do século passado, cheira a século XIX. Um atraso de vida, fossilizado.
Portugal é um atraso de vida? É. Como podia deixar de o ser? Bastava ensinar os estudantes a descodificar, a criticar e a valorizar as mensagens da comunicação social, dos jornais, da TV, da Web, da rádio e do que os poderosos - da política, do jornalismo, da economia, da cultura, do desporto - dizem através deles. Devia ser tão obrigatório como ensinar a compreender Luís de Camões ou Eça de Queirós. Com um povo que deixasse de ir em conversas demagógicas, que soubesse ler as entrelinhas do discurso de quem manda, este atraso de vida, por fim, terminava. Assim, prosseguimos, ignorantes mas serenos... e a votar nos mesmos.
in “Diário de Notícias”, 20 de Julho 2010
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