O problema do tampo da sanita

Mandei uma rapariga fazer uma reportagem sobre os defeitos dos maridos portugueses e, pimba!, levei logo com a história do homem que não baixa o tampo da sanita, no caso o coitado do José Maria Tallon. Quando eu e a minha mulher começámos a namorar tínhamos uma amiga comum que fazia jogo duplo e me contava tudo – pensava eu – sobre o que a Catarina comentava a meu respeito. Pois apesar de ela achar que eu poderia vir a ser o pai dos filhos dela, indicava como um dos meus defeitos insuportáveis esse de não baixar o tampo da sanita.

Pior. Um dia lá tive de ir a casa da mãe da Catarina para ser apresentado como namorado oficial. Fui simpático, como me competia, não me atrapalhei muito com o previsível inquérito policial a que fui sujeito. Jantei lá e, ao fim da noite, pediram-me para ir à cozinha buscar qualquer coisa. Pouco antes de voltar a entrar na sala ouvi este diálogo: – Então mãe? Que achas dele? – Parece bom rapaz. Mas, de certeza, não fecha a tampa da sanita. Pronto, ficou-me o trauma e de vez em quando, durante anos, dei por mim a pensar: “Mas que obsessão têm as mulheres com esta questão da tampa da sanita? Qual é o drama? Será por razões estéticas? Será uma fobia? Porquê?”

Só ao fim de uns anos é que tive coragem para falar disto à minha mulher e a resposta dela foi exactamente igual à explicação que Sofia Ribeiro dá no caso de Tallon: “É que vocês, homens, esquecem-se que nós podemos precisar de utilizar a sanita a seguir a vocês, pelo que podiam facilitar-nos a vida e deixar o tampo para baixo”.

Conclusão? Como é óbvio, o problema não está no subir ou no baixar do tal tampo, coisa fácil que demora meio segundo. O problema está é que nem na casa-de-banho as mulheres admitem que nós, homens, deixemos de pensar nelas.

in 24horas, 24 de Junho de 2006

3 comentários:

  1. Desabafo, senão explodo. É que sou mulher há 44 anos e, sinceramente, nunca reparei nessa cena do tampo da sanita. E olha que nunca fiz na banheira! Mas Pedro, não é isso mesmo a cortesia? A arte de pensar nas cortesãs?

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  2. Isto é uma obsessão, caro Tadeu, peço que me desculpe, tanto latim e de facto, tudo o que me motiva é esta coisa do tampo da sanita. É que, já me esqueci, porra, já não me lembro se da úlltima vez estava ou não levantada. Chiça!

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  3. Cara Joana Cunha: Eu sei é que já estou treinado de tal maneira que nunca deixo que mulher alguma apanhe o meu tampo de sanita levantado!

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