Uma vez fui à festa do “Avante!” com a minha menina e lá, numa tenda que funcionava como livraria, estava José Saramago a dar autógrafos. A fila de fãs do prémio Nobel era imensa, o ar estava abafado, o calor era insuportável e a Joana, agarrada à minha mão, parecia estar prestes a cair para o lado, de cansaço. Resolvi sair para voltar mais tarde, com mais sossego, ver os escaparates. Mas a Joana, que teria na altura uns 6 ou 7 anos, de repente, começou a dar-me puxões à camisa e a gritar excitada: “Ó pai! Ó pai!, está ali a Alice Vieira!”. A escritora entrava na tenda para, por sua vez, iniciar também uma sessão de autógrafos. E já não consegui sair dali sem gramar com meia hora de fila indiana para recolher um rabisco e uma saudação da, na altura, escritora preferida da minha filha que, de resto, achou o prémio Nobel José Saramago – que prosseguia a sua odisseia de assinaturas ao lado da heroína dos miúdos – um velhote um bocado carrancudo.
Por estas e por outras, sempre que oiço falar em Alice Vieira, instintivamente, como os cães, fico logo de orelha espetada. E, antes de tudo o que tive de fazer para esta revista ir para as bancas, fui ler a entrevista que hoje publicamos. Diverti-me imenso e acho que ela deve ser uma mulher extraordinária. Não sei é se a Joana, se agora a visse, seria capaz de a reconhecer.
Sem comentários:
Enviar um comentário