O segredo de Soraia Chaves

Hoje o tema desta revista é “cenas de sexo” e, desconfio, não há maneira de me sair bem do empreendimento de escrever sobre ele: inevitavelmente acabarei comprometido. Em primeiro lugar perante a minha mulher que, das duas uma, ou se zanga a sério ou gozará comigo o resto da vida. Em segundo lugar perante os leitores, que ou vão achar que me estou a armar em bom ou pensarão que sofro de uma frustração qualquer.

Vou então para o truque da falsa sociologia (como se houvesse sociologia verdadeira...), não falarei de mim e tentarei responder a uma curiosidade meramente científica (claro...): será que todos os portugueses querem fazer sexo com a Soraia Chaves? Sim, porque o facto de 363.312 pessoas já terem ido a correr ao cinema para ver a cena em que a modelo, nua, dá umas cambalhotas com Jorge Corrula merece reflexão... E como as mulheres que viram “O Crime do Padre Amaro” estavam apenas a tomar conta dos seus homens, a questão é pertinente, até porque há por aí muito filme estrangeiro bastante mais escaldante que este e com êxito muito menor.

A resposta que encontrei, depois de aturada reflexão e investigação estatística, é simples: a Soraia, além de bonita, é portuguesa. No meu tempo os machos iam aos magotes ao Condes ver a Helena Isabel sair nua de uma suposta nave espacial construída em plástico Domplex. Era o máximo do erotismo nacional. Agora os padrões são outros e as cenas mais picantes, mas o mecanismo básico é igual: ao ver uma actriz portuguesa numa cena de sexo, há um fenómeno de proximidade que não se sente com uma actriz americana ou francesa.

É como espreitar o quarto da vizinha. Não somos, portanto, uns tarados sexuais. Somos, apenas, uns impenitentes bisbilhoteiros. Até porque, quanto a sexo fazêmo- lo com alguém que tentamos esconder das bisbilhotices dos outros, debaixo de lençóis e com as cortinas das janelas corridas.
in 24horas, 21 de Janeiro de 2006

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