O preço que a fama cobra

Quando se estreou o “Big Brother” andávamos com a cabeça feita num oito. A coisa indignava-nos por haver pessoas que se dispunham a expor toda a sua intimidade às câmaras de televisão. A coisa deixava o País cheio de sentimentos de culpa por os telespectadores se comportarem como uma tribo de voyeurs que espreita pelo buraco da fechadura. A coisa era arrumada na secção dos problemas de consciência que se resolveriam mais tarde pelo facto, inultrapassável, de nos estarmos nas tintas para a moralidade e mamarmos, viciados, os episódios todos, uns atrás dos outros. 

Já passaram cinco anos e hoje já ninguém se impressiona muito com reality shows e a questão moral levantada por estes programas não foi resolvida: está esquecida de vez. A maioria de nós, até, segue os programas com alguma curiosidade mas sem uma pinga de paixão. 

Quando o fenómeno apareceu sonhei logo vir a fazer e a escrever, meia dúzia de anos depois, a reportagem sobre o que aconteceu aos primeiros personagens que entraram na casa da produtora Endemol. Adivinhava as tragédias de vida inevitáveis ao desgaste pessoal que, com o tempo, cada um daqueles rapazes e daquelas raparigas iria sofrer por ter sido famoso e depois ter caído no esquecimento, por ter tentado ser famoso e não o ter conseguido, por ter sonhado ser famoso e, afinal, ter odiado a fama, etc., etc.. 

A prisão de Mário, já depois da dupla tentativa de suicídio de Zé Maria, o primeiro vencedor do programa que alcançou o estatuto de herói nacional, já impunham que esse trabalho se publicasse. Procurámos então saber o que aconteceu a todos os que passaram pelo “Big Brother”. Infelizmente para mim não seria eu a escrever esta reportagem. Mas nesta revista fica documentado, de forma simples e clara, que, mesmo se às vezes for suave, o tempo cobra sempre algum preço à fama. 
in 24horas, 4 de Março de 2006

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