Elogio ao comentador político

Se fizermos as contas, há pelo menos 25 anos que os comentadores políticos preponderantes na imprensa portuguesa são basicamente os mesmos. E, se repararmos bem, há mais de 25 anos que eles, no essencial, escrevem exactamente a mesma coisa. 

Há 25 anos que eles repetem que o País está em crise. Há 25 anos que eles decretam a falência das mais sagradas instituições nacionais. Há 25 anos que eles juram estar o Governo nas mãos de incompetentes. Há 25 anos que lutam para pôr no poder outro tipo qualquer. Há 25 anos que bramam contra a corrupção. Há 25 anos que crucificam a Justiça. Há 25 anos que lamentam termos regredido 100 anos na educação, nos costumes, no nosso sentido civilizacional (seja lá o que isso for). 

Há 25 anos que eles constatam não existirem patriotas (excepto eles próprios, claro). Há 25 anos que eles denunciam atentados ao ambiente e ao ordenamento do território. Há 25 anos, portanto, que já não suportam o Algarve. Há 25 anos que catequizam uma nova teoria económica que nos vai fazer, a todos, ricos. Há 25 anos que não acreditam em economistas. Há 25 anos que escrevem, entusiasmados, sobre uma nova corrente filosófica cujo patriarca só eles conhecem. Há 25 anos que eles lamentam o fim da Filosofia. Há 25 anos que eles revelam o sentido da História. Há 25 anos que anunciam o fim da História. Há 25 anos que eles dizem que a Sociologia é uma fraude. Há 25 anos que eles explicam que a América manda no mundo. Há 25 anos que eles criticam a América. Há 25 anos que eles garantem que o PCP vai desaparecer nas próximas eleições. 

Há 25 anos que não consigo passar sem eles. Fazem-me muita falta. O mundo é mais fácil por eles existirem. Obrigado por serem como são. 

in 24horas, 19 de Novembro de 2005

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