É difícil andar bem vestido

 Por causa do senhor procurador-geral da República, doutor Souto Moura, tenho aparecido na televisão mais vezes do que gostaria. E, claro, fico sempre irritado com a figura ridícula que faço, com os (des)penteados com que apareço e as roupitas maçadoras que envergo. Resumindo: sou um triste. 

Aminha ideia de guarda-roupa ideal é esta: calças, camisa (camisola no Inverno), sapatos e casaco. Todo este equipamento deve ter uma qualidade única: a de me fazer passar despercebido. Se fosse eu a fazer as compras adquiria o mesmo conjunto de roupas sete vezes e ia mudando à medida das necessidades de lavagem. Por obrigação institucional, guardava no armário, no meio de bolas de naftalina, um conjunto engravatado ao qual me tentaria escapar sempre que possível. 

Infelizmente nunca me consegui organizar de forma a concretizar estes simples objectivos e a minha mulher tem feito tudo para sabotar esta operação. Ainda há bocado, tinha acabado de sair do meu gabinete um procurador que veio fazer uma busca à redacção do 24horas, tocou o meu telefone. Era lá de casa. Perguntaram-me se eu estava bem, se precisava de alguma coisa. Respondi que não, que ela estivesse descansada. Passado um bocado dei por mim a discutir o número de calças que visto, pois como deixei de fumar há um ano e engordei uns 10 quilos, a Catarina tinha dúvidas se o 38 ainda servia. Serve. E pronto, já sei que daqui a uns dias terei umas calcitas lá em casa para substituir as que tenho um bocado coçadas. Se não fosse ela, que compra o que lhe peço, eu não andava vestido como um triste. Andava mas era nu. 
in 24horas, 18 de Fevereiro de 2006

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