Quando era miúdo e sonhava que um dia seria jornalista, fazia uma colecção, que não era de cromos da bola, como a dos meus amigos, mas podia ser: gravava mentalmente o estilo e a técnica dos jornalistas de que mais gostava – da TV, da rádio, da escrita – para, um dia, ser como eles. Para cada uma dessas vedetas ficava um retrato mental – o tal que podia muito bem ser um cromo coleccionável – que tanto podia ser a cara, como a voz, como uma frase memorável.
Carlos Pinto Coelho fazia parte dessa minha colecção de cromos privada. Primeiro por causa da rádio e dos noticiários que ele comandava nas manhãs da, penso, Rádio Comercial. Aquilo era uma revelação: então o noticiário de rádio podia durar 10 minutos ou mais e ter depoimentos, reportagens, entrevistas, curtos debates, notícias sobre tudo? Então um noticiário de rádio não era, simplesmente, um senhor que se punha a ler durante uma data de tempo, com voz oficiosa e engravatada, coisas sem interesse algum? Pouco tempo depois gravo na memória outra revelação: Carlos Pinto Coelho era pivô de telejornal e... punha paixão em cada notícia. Foi tão marcante que deu “boneco” de Herman José, o que é consagração maior do que ganhar um Globo de Ouro. Já era eu jornalista e um dia vejo-o no “Acontece”. Pois, outra revelação: um programa de informação cultural que ao longo dos anos moldou este país – foi mais influente que muitos ministros da Cultura – apenas por ter um segredo: não ser chato.
Tive sorte e um dia acabei por conhecer esse cromo. E calhou que, hoje, pudesse publicar fotografias suas (é o seu hobbi) tiradas em Nova Orleães, de locais que já não existem, antes do furacão Katrina, no dia em que a América declarou guerra ao Iraque. É um favor que ele me está a fazer, só para dar prazer aos leitores do 24horas. Estou, portanto, feliz que nem um cuco... E até me sinto mais crescidinho.
in 24horas, 17 de Setembro de 2005
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