As roupas de bebé são um perigo

Como todos os homens, faço gala em odiar compras. Sempre que a minha mulher, de pistola em punho, me obriga a entrar numa loja de roupa, ponho umas trombas daqui até à China, critico os preços de tudo o que vejo, faço filosofia barata sobre a sociedade de consumo e, logo que a apanho distraída, raspo-me para uma loja de música ou informática, doidinho por gastar um dinheirão nas coisas de que gosto.

A única vez que eu e ela partilhámos o gosto pelas compras foi aquando do nascimento da nossa filha. Fazer compras para um bebé é mesmo um divertimento e passámos horas e horas juntos a remexer em prateleiras de expositores. E porquê? Simplesmente porque é tudo pequenino: os dedos entram nos sapatos, a cama cabe debaixo do braço, os casacos, os barretes, as calças, os macacos, os pijamas, até as fraldas... É muito enternecedor!

Sim, é verdade, o comércio aproveita-se desta tendência humana de adorar brincadeiras com bonecas, de se fascinar com o que é pequenino e de formas arredondadas, para tentar sacar-nos todos os euros que puder. Mas alguém é capaz de se revoltar contra isso? Acho que não. Cada um de nós não resiste, conforma-se, procura álibis morais para o despesismo ("queremos o melhor para o nosso filho, não é?") e vai até ao limite das suas capacidades financeiras para conseguir levar tudo para casa.

Se calhar, como tenho este problema de incompatibilidade nas compras com a minha mulher, o melhor era arranjarmos outro bebé para nos voltarmos a divertir juntos nas lojas...

in 24horas, 1 de Outubro de 2005

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