As pessoas stressadas são as mais felizes. Atenção, que me estou a referir ao significado que normalmente damos à palavra e não ao seu estrito sentido médico-científico. Quando dizemos que “aquele tipo é um stressado” não estamos a pensar em alguém que, sujeito a condições extremas e antagónicas, entra num processo de exaustão que o pode levar à morte.
Aliás, creio que ninguém admite mortes por stresse. Preferimos culpar o coração, o tabaco, a vida sedentária, a má alimentação ou outra coisa qualquer. Morrer por stresse é algo que nos parece antinatural, é uma morte só admissível para os fracos de espírito. Morrer por stresse culpa o morto, é uma espécie de suicídio...
E por que é que temos tantas reservas em admitir mortes por stresse? Por que pensamos, no nosso íntimo, que as pessoas stressadas são, de facto, mais felizes.
Esses queridos tontos apoplécticos, que se enervam, que estão num permanente estado de exaltação, que se excitam com o trabalho, que parecem permanentemente apaixonados pela vida, que lutam por objectivos como se a vida do planeta dependesse deles, esses queridos tontos, repito, que estão numa correria incessante, são mais felizes que os outros, não tenham dúvidas.
Eles não param para perguntar se alguma coisa à sua volta não faz sentido. Eles não param para ver se alguém ao seu lado precisa de uma mãozinha. Eles não param para se verem ao espelho, à procura de rugas. Eles não param, logo existem. E quando param, desligam, totalmente, e pronto, continuam felizes. O stresse é uma bênção de ignorância.
in 24horas, 14 de Maio de 2005
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