Aliás, quando oiço ou leio notícias sobre os negócios do futebol não consigo evitar uma sensação de nó no estômago. Por um lado, parece que caio repentinamente na antiga Roma no meio de uma discussão entre mercadores de escravos gladiadores: “O nosso homem vale x milhões” ou “não vendemos fulano por menos do que o comprámos” ou ainda “trocamos este belo atleta por dois dos teus”. Só falta mesmo examinarem-lhes, ao vivo, a musculatura, a branquidão dos dentes e o estado dos órgãos sexuais.
Por outro lado, fico com a sensação de ter caído no meio de um negócio ilegal, tão elevados são os lucros: um investimento num miúdo de 14 anos, pago a uns 100 ou 200 contos por mês mais a escolaridade obrigatória, pode transformar-se, em quatro ou cinco anos, num lucro de um ou dois milhões de contos. Tenho cá a impressão que nem a droga dá estas margens de lucro! Aliás, ouvir os homens de fato e gravata do futebol, escutando a facilidade com que se chamam uns aos outros de "gangsters" ou “bandidos”, aumenta-me o pânico.
O evoluir racional da civilização só poderia levar a um desfecho: o fim do negócio do futebol. Não é isso que está a acontecer. Porquê? Porque a beleza do jogo nos envenena, nos vicia e, como todos os dependentes, nada queremos saber, desde que nos satisfaçam o vício. Eu já estou à espera do campeonato.
in 24horas, 16 de Julho de 2005
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