De acordo com informações recolhidas pelo JN, o interrogatório formal de Vieira como arguido aconteceu no dia 17 do mês passado nas instalações da DCICCEF da PJ. A diligência foi realizada sob grande discrição, na mesma semana em que Vieira e Veiga foram inquiridos pelo Ministério Público italiano sobre a transferência de Miccoli.
Em causa nesta investigação da PJ, está o apuramento do rasto de parte importante dos cerca de cinco milhões de euros que em 2000 foram pagos pelo Benfica por 50% do passe do futebolista angolano. É que, depois de entrar nas contas do Alverca, uma fatia substancial da verba não ficou no clube. Vieira ter-se-á dito alheio a esta situação.
Na transferência, Luís Filipe Vieira surge, no entanto, envolvido do início ao fim. Inicialmente do lado do vendedor, enquanto presidente do Alverca, e do lado do comprador, quando tomou posse como gestor do futebol do Benfica, sob a presidência de Manuel Vilarinho. Acresce que Vieira chegou a deter, em nome pessoal, uma quota sobre o passe de Mantorras, aquando da aquisição ao clube angolano. O mesmo dirigente cedeu, depois, essa posição ao Alverca.
São estas circunstâncias que podem levantar suspeitas em torno da actuação do actual líder do clube da Luz, num processo em que são investigados eventuais crimes de burla qualificada, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Este crime surge associado a uma operação detectada pela PJ relativa a um levantamento, pelo lado do Alverca, de cerca de 1,5 milhões de euros em notas. A esta saída de verbas correspondeu a contratação de um jogador boliviano de nome Ronald Garcia, que foi posteriormente transferido do Alverca para o Benfica. A PJ está a passar a pente fino as contas de Jorge Manuel Mendes.
Antes de Luís Filipe Vieira ter sido constituído arguido - mas depois de o jornal "24horas" ter noticiado, a 24 de Agosto passado, que a PJ iria interrogá-lo nessa qualidade -, as autoridades colocaram o empresário Paulo Barbosa como suspeito no processo, uma vez que, desde há bastante tempo, tinha uma relação informal bastante próxima com Vieira, no âmbito de vários negócios do futebol do Alverca. Muito antes disso, o agente Jorge Manuel Mendes tinha sido constituído arguido.
Contactado pelo JN e depois de inteirado do assunto, Luís Filipe Vieira não quis prestar declarações. "Não falo sobre isso. Desculpe lá, não quero incomodar-me com isso. Peçam informações à Polícia Judiciária". E desligou o telemóvel.
O passe de Mantorras
"Deve o Alverca assumir os direitos e obrigações por mim contraídos por força do referido contrato, mediante qualquer das formas previstas na lei, designadamente mediante um novo contrato a celebrar directamente entre o Alverca e a supra-referida PGD [empresa de Jorge Manuel Mendes]". Esta transcrição consta do contrato de cedência da quota sobre o passe de Mantorras por Vieira ao Alverca.
"Não faz sentido"...
"Não faz sentido o meu nome estar ligado a isto. A não ser pelo facto de ter sido interveniente na negociação, como muitas pessoas", disse o presidente do Benfica em entrevista ao "24horas" a 25 de Agosto.
...e o Apito Dourado
"O único dirigente deste país que tem tido coragem de falar no Apito Dourado para não cair no esquecimento sou eu. [...] Mas eu não me vou calar. Quem não deve não teme. Assumo perante toda a gente que tenho as minhas mãos limpas", alegou, na mesma entrevista.
in Jornal de Notícias, 8 de Dezembro de 2006
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