Ajuda às vítimas da guerra mundial


Comemorámos os 40 anos do 25 de Abril. Cada um reescreveu a História como lhe agradou. Daqui a 40 anos serão acertadas contas... se o permitir a honestidade intelectual da ideologia dominante nessa altura.
Voltemos ao presente. Tratemos de números assustadores: a dívida pública portuguesa ronda os 200 mil milhões de euros. Isto equivale a 130% do Produto Interno Bruto. São 20 mil euros para cada português. Só o pagamento dos juros leva-nos todos os anos 4% da riqueza criada no País. Não é preciso ter a sapiência de um génio financeiro para perceber que isto vai acabar mal.
Para o Governo, não. O primeiro-ministro proclama o dealbar do fim da crise, agarrado ao argumento de um controlo do défice do Estado em níveis aplaudidos pelo poder em exercício na União Europeia. Com essa rede por baixo, Passos Coelho exercita-se nas pantomimices eleitorais: o aumento do salário mínimo já é negociável e os despedimentos ilegais continuarão a ser multados a sério... E até se avança com uma medida verdadeiramente socialista: a Galp será obrigada pelo Estado a baixar preços ao consumidor devido a lucros não previstos... se fosse o PCP a propor uma destas havia logo acusações de estalinismo.

Toda esta euforia é falsa. A realidade económica do País é outra: a dívida pública é insuportável. Isso - venham os economistas do regime explicar o que quiserem - será, um dia, trágico.
O manifesto dos 74, há coisa de um mês, defendeu a renegociação do pagamento da dívida pública portuguesa e comparou a nossa situação com a da Alemanha do pós--guerra. Os arautos do poder acharam essa analogia imoral, como se a discussão fosse sobre os motivos que levaram a Alemanha à miséria e não sobre a análise factual do mecanismo então utilizado para salvar o país.
E como foi? Foi assim: em 27 de Fevereiro de 1953 o Acordo de Londres determinou que a dívida externa alemã anterior à II Guerra Mundial era perdoada em 46% e a posterior à II Guerra em 51,2%. Da parte remanescente da dívida, 17% passou a ser paga à taxa de juro de 0% e 38% à taxa de juro de 2,5%. Os juros devidos desde 1934 foram perdoados. Foi acordado um período de carência de cinco anos e limitadas as prestações anuais ao máximo de 5% das exportações. O último pagamento desta dívida foi efetuado depois da reunificação alemã, em 1990. O país, entretanto, desenvolvera--se espetacularmente.
É assim tão irracional pensar em algo minimamente semelhante para os países vítimas, no início deste século, da guerra mundial da especulação financeira?

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